Trama golpista: defesa de Anderson Torres contesta competência do STF e acusações sobre tentativa de golpe
Advogados argumentam que não há provas de participação do ex-ministro e pedem absolvição, anulação do processo ou julgamento na primeira instância

Jessica Cardoso
Paola Cuenca
A defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres apresentou, nesta quarta-feira (13), as alegações finais no inquérito que apura o chamado “Núcleo 1” na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, contestando a competência do Supremo Tribunal Federal (STF) para julgar o caso e negando envolvimento do ex-ministro nos atos investigados.
Segundo os advogados, Torres não possuía foro por prerrogativa de função quando os supostos crimes teriam sido cometidos. Eles também afirmaram que o processo deveria tramitar na primeira instância.
A defesa ainda questionou as acusações que pesam sobre Torres, classificando-as como baseadas em “insinuações e narrativas artificiais”. Segundo os advogados, não há provas de que ele tenha participado de uma organização criminosa ou planejado ações para o golpe.
Sobre o documento chamado de “minuta do golpe”, encontrado na casa do ex-ministro, a defesa afirmou que se tratou de um documento esquecido e não de um plano real.
Disse que o texto apreendido não mencionava medidas como decretação de Estado de Sítio ou prisão de autoridades. Perícias e registros públicos, segundo os advogados, indicam ainda que um texto idêntico já existia on-line antes da apreensão.
A viagem de Torres aos Estados Unidos, realizada na época dos eventos do 8 de janeiro, também foi contestada.
A defesa explicou que a viagem estava programada desde novembro de 2022, antes do ato golpista, e que a Secretaria de Segurança Pública não ficou sem comando, pois o substituto legal assumiu interinamente a função. À época, Torres ocupava a função de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Com os argumentos, a defesa solicitou a absolvição de Anderson Torres, argumentando que a “fragilidade” das acusações torna inevitável a decisão favorável ao réu.
De forma alternativa, os advogados pedem a anulação do processo, apontando dois motivos principais. Primeiro, que o STF não seria o tribunal competente para julgar o caso. Segundo, que o direito de defesa de Anderson Torres foi prejudicado.
De acordo com a defesa, isso ocorreu porque o tribunal negou pedidos de diligências, como o acesso a dados do WhatsApp, que poderiam comprovar a versão apresentada pelo ex-ministro.
Além disso, o documento apresenta um pedido subsidiário: caso o Supremo não concorde em remeter o processo a uma Vara Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal, a defesa solicita que o caso seja julgado pelo plenário do STF, e não pela Primeira Turma.
Julgamento do "Núcleo 1"
Anderson Torres foi o primeiro réu do grupo considerado crucial para a trama golpista a apresentar suas alegações finais no processo. O prazo termina nesta quarta-feira (13). Além dele, integram o “Núcleo 1”:
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-chefe da Casa Civil.
Todos são acusados de:
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Tentativa de golpe de Estado;
- Participação em organização criminosa armada;
- Dano qualificado;
- Deterioração de patrimônio tombado.