Na ONU, Lula cita condenação de Bolsonaro e fala sobre falsos patriotas
Presidente destacou a defesa da democracia brasileira e criticou ações de opositores durante discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU
SBT News
Murillo Otavio
Em seu discurso de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro ao destacar a importância da democracia brasileira. Além disso, afirmou que “falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil”.
“Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso”, declarou Lula.
Em seguida, completou:
“Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”.
A condenação de Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes movimentou a articulação política nos Estados Unidos.
Desde o início das investigações, após os atos de 8 de janeiro, o presidente norte-americano Donald Trump acusou as autoridades brasileiras de promover uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro. Ele também usou essa justificativa, entre outras, para impor tarifas de 50% a produtos brasileiros.
Como consequência, os EUA passaram a aplicar restrições a autoridades brasileiras, incluindo a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes e à esposa dele.
Essas medidas têm sido impulsionadas por Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos articulando ações contra o Brasil.
Sem citar o deputado, Lula afirmou na ONU que “falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil”. E concluiu: “Não há pacificação com impunidade”.
Após o discurso brasileiro, Trump falou por mais de uma hora no plenário. Em seguida, os dois presidentes se cumprimentaram e confirmaram um encontro para a próxima semana — o primeiro desde a imposição das tarifas e do aumento da pressão americana sobre autoridades brasileiras.
Outros pontos do discurso
Gaza
Outro ponto a ser citado por Lula foi a guerra na Faixa de Gaza. Na ocasião ele lamentou a ausência da delegação palestina presencialmente na assembleia e afirmou que "nada justifica o genocídio em curso em Gaza".
"Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo, mas nada, absolutamente nada justifica o genocídio em curso em Gaza", disse.
A ausência da delegação palestina foi em resposta à decisão do governo de Donald Trump em revogar todos os vistos de membros do governo palestino. Lula comentou sobre a situação, deixando claro que a ordem dos EUA de barrar a participação do grupo representa um sinal de fragilidade democrática dentro da própria ONU.
Regulação das redes
Lula defendeu na ONU a regulamentação das plataformas digitais. O presidente afirmou que as redes "têm sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia, homofobia e desinformação".
"A internet não pode ser uma “terra sem lei”. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis. Regular não é restringir a liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual", acrescentou.
Ainda diz que possíveis ataques à regulação "servem para encobrir interesses escusos e dar guarida a crimes, como fraudes, tráfico de pessoas, pedofilia e investidas contra a democracia".
Lula sancionou em 17 de setembro o projeto de lei que estabelece obrigações para proteger crianças e adolescentes no ambiente digital, chamado de Estatuto Digital da Criança e do Adolescente - ECA Digital.
+ Veja a íntegra do discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU
COP30
O presidente Lula afirmou ainda durante seu discurso que a COP30 "será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta".
"Fomentar o desenvolvimento sustentável é o objetivo do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o Brasil pretende lançar para remunerar os países que mantêm suas florestas em pé", disse.
A COP30 acontecerá em Belém (PA) em novembro. Na ocasião, Lula disse que o mundo vai conhecer a realidade da Amazônia
Reforma da ONU e defesa do multilateralismo
O presidente defendeu a reforma da ONU, além de mencionar a importância do multilateralismo.
"A voz do Sul Global deve ser respeitada e ouvida. A ONU tem hoje quase quatro vezes mais membros do que os 51 que estiveram na sua fundação. Nossa missão histórica é a de torná-la novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável, da diversidade e da tolerância", afirmou.
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