“Crítica é livre, mas criticar as instituições é diferente de querer destruí-las”, diz Barroso
Presidente do Supremo afirma que o STF não se mete em tudo, mas que leis levam tudo à Corte

SBT News
“Não é o Supremo que se mete em tudo é o arranjo institucional brasileiro que permite que tudo chegue ao Supremo Tribunal Federal”. Foi dessa maneira que o presidente da Corte, Luis Roberto Barroso, explicou neste sábado (7) para uma plateia de empresários brasileiros reunidos em São Paulo como tem sido a atuação do Judiciário nos últimos anos.
Frequentemente, o Supremo tem sido acusado por políticos de diversas ideologias de interferir nos outros poderes e de estar extrapolando as suas funções constitucionais. Como tentativa de se defender desse tipo de queixa, Barroso tem feito discursos com sua avaliação sobre o cenário.
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Conforme ele, a Constituição permite que diversas causas cheguem à corte. “O que faz com que a vida [dos ministros do STF] seja decidir as questões mais divisivas da sociedade brasileira”, declarou o magistrado.
Ele citou, no seu discurso no evento do grupo Esfera Brasil , casos que envolvem comunidades tradicionais e representantes do agronegócio. Quando uma dessas partes perde a causa, a outra vocaliza sua insatisfação contra a Corte.
“Não me impressiono quando as pesquisas dizem que o Supremo tem só 49% de confiança. Que coisa extraordinária! Pela quantidade de gente que a gente desagrada, poderia ser muito pior”, afirmou Barroso.
Para o ministro, os discursos agressivos e as ações anti-instituições estão tomando proporção nunca antes imaginada. “A crítica é livre, é importante, mas criticar as instituições é completamente diferente de querer destruí-las”, disse.
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No evento, Barroso também disse que o nível de violência no país é tamanho que o impede, por exemplo, de sair na rua sem ser acompanhado por seguranças. Ele lembrou que na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016 pode frequentar estádios com amigos e familiares sem qualquer monitoramento.
“Hoje em dia não tenho nenhuma possibilidade de sair na rua sem ter três seguranças. Foi essa transformação que ocorreu no país que se tornou mais agressivo, mais violento e as pessoas se sentem com mais liberdade de se manifestarem da forma mais grosseira possível”, afirmou.
Por fim, o ministro ainda avaliou que há espaços para todas as ideologias no Brasil, que chegou aos 40 anos de estabilidade institucional. “A democracia tem lugar para liberal, tem lugar para progressista, tem lugar para conservador, tem lugar para todo mundo. Mas a civilidade é um valor que vem antes da ideologia e é algo que perdemos e temos de recuperar”.