"Consultor do golpe", Pazuello submergiu na Câmara com zero discurso
Deputado e ex-ministro da Saúde é citado pela PF como autor de “fundamentos” para ação militar. Nome dele aparece em três depoimentos
Um trecho de apenas seis linhas no depoimento do general Freire Gomes traz para o centro das tratativas de golpe o hoje deputado bolsonarista Eduardo Pazuello (PL-RJ). O parlamentar e ex-ministro da Saúde é citado pelo investigador da Polícia Federal que conduziu o interrogatório como uma espécie de consultor da trama ao “tentar utilizar o artigo 142 da Constituição como fundamento jurídico para uma ação militar visando impedir a posse do presidente eleito (Lula)”.
O nome de Pazuello também é levantado em outros dois depoimentos: do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do empresário Eder Lindsay. Em um cruzamento de todas as oitivas feito a partir da ferramenta Pinpoint, do Google, é possível identificar que os investigadores questionam a relação dos depoentes com o general da reserva.
No caso de Freire Gomes, a PF quer saber se o ex-comandante do Exército teria tomado providência em relação às ações de Pazuello. Freire Gomes diz que a ação do general era política, porque, como militar da reserva, Pazuello não teria condições de influenciar a tropa da ativa para um eventual golpe:
“INDAGADO sobre quais providências tomou em relação às ações promovidas pelo General PAZUELLO de tentar utilizar o art.142 da Constituição Federal como fundamento jurídico para uma ação militar, visando impedir a posse do governo eleito, respondeu QUE como o General PAZUELLO já estava na reserva e eleito Deputado Federal, entendeu que seria uma questão política, sem possibilidade de influenciar diretamente as Forças Armadas; QUE tal proposta não teria qualquer respaldo das Forças Armadas”
A Anderson Torres, o delegado PF questiona se ele, como ex-ministro da Justiça, participou de reunião com Pazuello:
“INDAGADO se esteve em reuniões com o então presidente JAIR BOLSONARO e o General PAZUELLO no dia 07/11/2022 no Palácio do Alvorada e qual foi o teor da reunião, respondeu QUE não esteve em tal reunião; INDAGADO quais foram as ideias trazidas pelo General PAZUELLO na reunião do dia 07/11/2022 quanto a utilização do art.142 da CF/88, respondeu QUE desconhece.”
De Eder Lindsay, a PF quis saber dos contatos do empresário com o militar da reserva sobre tratativas de fraude nas urnas:
“INDAGADO se chegou a tratar com o General PAZUELLO sobre possíveis fraudes nas urnas eletrônicas e sobre o conteúdo do Relatório de Fiscalização do Sistema Eletrônico de Votação, respondeu QUE nunca tratou com tal pessoa.”
Atuação parlamentar
Na Câmara, onde ganhou uma cadeira nas eleições de 2022 com o apoio de Bolsonaro, Pazuello submergiu. Desde o início de 2024, não fez um único discurso, não ocupou cargo algum na burocracia legislativa nem relatou qualquer projeto – em 2023, o general da reserva fez ao todo oito discursos. A discrição contrasta com outros citados nos depoimentos à PF. Os documentos tiveram sigilos levantados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na última sexta-feira (15).
Carla Zambelli (PL-SP) – citada na PF pelo ex-comandante da FAB e tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior por tê-lo pressionado a aderir ao golpe – fez três discursos em plenário desde o início do ano e ocupa a vice-liderança do partido na Câmara. O senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) – que teria indicado ao PL o instituto que questionou as urnas – fez dois discursos no Congresso em fevereiro.
O SBT News entrou em contato com o gabinete de Pazuello para que ele se manifestasse sobre o número de discursos proferidos neste ano. O espaço permanece aberto.