Bate-boca e baixaria com bolsonaristas marcam ida de Marina Silva à Câmara
Deputada questionou se a ministra era "capacho" e presidente citou "adestramento"; ministra rebateu: “Ambientalistas de conveniência"

Lis Cappi
Bate-boca e baixaria marcaram a ida da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Clima, à Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (16). Deputados de oposição ligados ao bolsonarismo listaram uma série de críticas à condução do ministério frente aos recordes de queimadas no Brasil.
As perguntas foram carregadas de provocações, como um questionamento se Marina seria “capacho” de organizações não governamentais (ONGs). A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) questionou a condução de Marina frente ao ministério e as estratégias adotadas.
“Quem realmente manda na Amazônia, o governo Lula ou os financiadores internacionais? O Brasil virou o capacho verde dos bilionários no exterior? Até onde o ministério vai submeter os interesses do país para receber os aplausos e os cheques desses ‘magnatas verdes’?”, questionou a parlamentar.
A ministra rebateu afirmando haver uma falta de preocupação real por parte dos parlamentares com o meio ambiente, e destacou que o governo alcançou 50% das reduções no desmatamento no país. “Eu fico imaginando se o desmatamento continuasse aumentando, em 50%, como nós não estaríamos”, declarou Marina em referência ao governo anterior.
“Capacho é quem faz discurso de encomenda, mesmo gostando da biografia de uma pessoa, faz discurso de encomenda para fazer lacração. Eu sou uma pessoa que penso por mim mesma. Capacho é quem vem aqui com falinha mansa para fazer acusação inverídica, isso é ser capacho. Capacho da falta de confiança”, afirmou a ministra ao ser novamente questionada por Zanatto.
A discussão com a parlamentar escalou, com provações contra a ministra. Marina afirmou que não seria intimidada e questionou a condução do deputado Evair de Melo (PP-ES), que exercia a presidência: “Vossa excelência permite que os deputados dirijam palavras ofensivas, palavras violentas, todas que dizem aqui de forma ofensiva”.
A ministra ainda afirmou que os parlamentares agora fazem acusações como palco político e insinuou que os parlamentares atuam como “ambientalistas de conveniência”, em seguinte declaração:
“Ambientalistas de conveniência, que nunca fizeram nada pelo meio ambiente e agora vem com esse papinho de preocupação com incêndio, de preocupação com enchente. Isso é papinho de ambientalista de conveniência.”.
No encerramento do evento, o deputado Evair de Melo afirmou que Marina recebeu treinamento em mídia e um “adestramento para ter essa postura”. A expressão foi questionada por Marina:
“Adestramento é o quê? quem é adestrado? Tenha santa paciência. Não vai me dizer que eu sou uma pessoa adestrada”, disse Marina. O deputado de oposição retrucou, sustentando que não houve respostas diretas aos questionamentos defendidos, e criticou a gestão da ministra.
Após a audiência, Marina falou a jornalistas que esperava o tipo de reação por parte dos parlamentares, mas que houve falha na condução por parte de Evair de Melo. A ministra também disse que é necessária uma preocupação real com as ações ambientais e com as mudanças climáticas.
“No passado, as mesmas pessoas sempre foram contra a reserva legal, sempre foram contra as áreas de preservação permanente, sempre foram contra aqueles que mais protegem, que são os povos indígenas, e sempre foram contra o posicionamento da ciência que está dizendo que cada vez mais nós vamos ter eventos extremos”.