Planalto alugou equipamento médico desnecessário para Bolsonaro mergulhar
Cartão pagou câmara hiperbárica, usada em emergência em profundidades, para mergulho na superfície
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou o cartão corporativo para alugar uma câmara hiperbárica, equipamento médico utilizado por mergulhadores de grandes profundidades, em caso de emergência, durante o carnaval de 2021, em Santa Catarina. O gasto, segundo especialistas, foi desnecessário, já que ele mergulhou sem o uso de cilindro de oxigênio e ficou só na superfície.
+ Bolsonaro gastou 2,6 mi só em hospedagens durante folgas
A locação foi descoberta pelo SBT News após a agência Fiquem Sabendo divulgar mais de 2 mil notas fiscais de compras feitas no cartão corporativo da Presidência da República, com base na Lei de Acesso à Informação (LAI).
Bolsonaro viajou para Santa Catarina em 13 de fevereiro de 2021, a passeio, durante o feriado de carnaval. Na ocasião, o então secretário de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Jorge Seif Júnior – que acompanhava o ex-presidente – chegou a ironizar as críticas aos gastos do governo, mostrando as instalações simples do hotel de trânsito do Forte Marechal Luz, na cidade de São Francisco do Sul, onde eles ficaram hospedados (veja no vídeo abaixo). Mas as notas fiscais descobertas agora mostram o contrário.
Lá, entre os dias 15 e 16 de fevereiro, o motorista oficial do Planalto, Alexandre Silva Almeida, pagou R$ 5 mil para a empresa Sub Marine Serviços LTDA no aluguel de uma "câmara hiperbárica e seus periféricos", conforme mostra a nota fiscal a seguir.
A câmara hiperbárica é um equipamento médico utilizado no tratamento de acidentes de mergulho causados pela descompressão. Ela é considerada uma das terapias possíveis para um mergulhador em caso de embolia gasosa, quando bolhas de nitrogênio permanecem no corpo da pessoa mesmo após a subida à superfície. Mas para o tipo de mergulho realizado pelo ex-presidente, ela é desnecessária, pois neste caso não há risco de qualquer doença descompressiva.
Bolsonaro entrou no mar com uma nadadeira – conhecida como pé de pato –, uma máscara e um tubo, que ao encaixar na boca auxilia na respiração sob a água, como mostram essas imagens feitas pelo deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ), que também estava na comitiva presidencial.
Essa prática de mergulho, conhecida como snorkeling, não é capaz de gerar uma descompressão no corpo do mergulhador, já que o único ar respirado é o atmosférico, que fica na superfície.
O SBT News procurou o Grumec, Grupamento de Mergulhadores de Combate da Marinha, para entender em quais casos uma câmara hiperbárica precisa ser utilizada. De acordo com oficiais do Departamento de Mergulho, o que causa a descompressão é o tempo de exposição e a profundidade da água. Sendo assim, uma pessoa que realiza o mergulho na superfície – como é o caso de Bolsonaro – não precisa do equipamento médico.
A nossa reportagem também entrou em contato com a Sub Marine Serviços LTDA, que confirmou que assessores de Bolsonaro estiveram no local, em 2021, para alugar a câmara hiperbárica. Segundo um funcionário da empresa nos contou por telefone, eles justificaram a locação afirmando que o ex-presidente faria um mergulho.
Outros gastos
"Antes que me critiquem, lá a gente trabalha também", disse Bolsonaro em uma de suas tradicionais lives, dois dias antes de chegar ao Forte Marechal Luz, no dia 11 de fevereiro de 2021. Mas diferentemente do que foi dito, o ex-presidente usou da viagem para aglomerar apoiadores nas praias -- em um momento crítico da pandemia de covid-19, andar de moto aquática, realizar mergulhos e passear de moto. Tudo isso gerou gastos no cartão corporativo da Presidência da República, como mostram as notas fiscais analisadas pelo SBT News.
Em 16 de fevereiro, dia do seu mergulho de snorkel, Bolsonaro gastou R$ 4.125 mil na Panificadora São Francisco do Sul LTDA, na compra de 500 mistos-quentes.
Também no dia 16, às 16h20, uma nota fiscal da empresa Ka Brasil Comércio de Combustíveis registra o pagamento de R$ 5.189,46 mil. Desse valor, R$ 4.549,65 mil foram gastos em óleo diesel e outros R$ 639,81 em gasolina. Às 19h49, outra compra no mesmo posto de combustível, dessa vez no valor de R$ 19.302,16 mil, divididos assim: R$ 10.609,14 mil em diesel e R$ 8.693,02 mil em gasolina.
O ex-presidente pagou, ainda, cerca de R$ 12 mil em manutenção de equipamentos náuticos, como navios, lanchas e motos aquáticas, em três notas fiscais de empresas diferentes: a Prestadora de Serviços Mitz Onoue, que recebeu R$ 3.147,42 mil, a Gaúcho Auto Peças, que recebeu R$ 5.999,46 mil e a Candioto Motors, que recebeu R$ 2 mil.
Na rede de supermercados Koch, as notas fiscais ultrapassam R$ 47 mil. Só em uma compra, foram pagos R$ 23.161,67 mil. Entre os produtos comprados, mais de R$ 5 mil em alcatra e contrafilé e R$ 759,33 em pacotes de farofa.
Para separar os apoiadores que cercavam o ex-presidente na cidade, tanto nas praias quanto em frente ao Forte Marechal Luz, foram pagos R$ 12.040 mil na locação de gradis.
Bolsonaro também gastou com a instalação de TV a cabo no hotel de trânsito. Foram pagos à empresa MN Parabólicas mais de R$ 2 mil.