Auxílio emergencial endivida o Brasil mas tem que ser prorrogado, diz FHC
"É melhor ter dívida e ter a pessoa viva do que você não ter dívida e ter as pessoas mortas", diz ex-presidente
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao Poder em Foco. Foto: SBT
Roseann Kennedy
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O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta quarta-feira (3.fev) que, mesmo com o aumento da dívida pública, o governo vai ter que prorrogar o pagamento do auxílio emergencial no país. "A situação emergencial continua e as pessoas têm que viver. Vai ter consequência negativa? O Brasil vai se endividar. É verdade. Mas, fazer o quê?", questionou em entrevista à jornalista Roseann Kennedy, no programa Poder em Foco, no SBT.
Fernando Henrique comparou o momento com uma situação de guerra. "As pessoas não vão poder ficar morrendo na rua. Não é demagogia não, é necessário", ressaltou. Ele disse que o país vai sair mais endividado do que já está e que não gosta disso, mas avaliou não haver outra alternativa no momento.
"Não, eu não gosto disso. Mas, vai fazer o quê? É melhor ter dívida e ter a pessoa viva do que você não ter dívida e ter as pessoas mortas", concluiu.
O ex-presidente observou, ainda, que o país tem hoje 14 milhões de desempregados e que essas pessoas não vão conseguir encontrar trabalho agora. "No meu tempo [quando era presidente], chegou a seis, sete milhões de desempregados, era assustador. Agora tem o dobro. É horrível!", lamentou.
Ele também defendeu a necessidade de o governo preparar um ambiente de confiança no país, para atrair investimentos. "Não adianta só a vontade do presidente Jair Bolsonaro, a vontade de muita gente. O clima tem que ser mudado, tem que criar um clima para acreditar no Brasil".
Eleições
Fernando Henrique Cardoso comentou o resultado das eleições do deputado Arthur Lira (PP) para a Presidência da Câmara e do senador Rodrigo Pacheco (DEM) para a Presidência do Congresso e disse que foi uma vitória do presidente Jair Bolsonaro. Os dois tinham o apoio do Palácio do Planalto. Mas, para FHC, isso não influencia o cenário para a corrida presidencial de 2022.
"Do ponto de vista popular, não conta muito não. Do ponto de vista popular, contam o desempenho do governo e a popularidade do presidente. O que decide eleição é a capacidade de perceber o sentimento e falar com o povo. Agora, quem vai ser capaz disso? Bolsonaro é presidente porque demonstrou que é capaz de expressar uma parte da população, pelo menos contra a outra. Então não acho que a eleição da Câmara e do Senado tenha essa importância tão grande para a política geral do povo. Para o país, tem".
Ele lembrou que os presidentes das duas Casas decidem a pauta e disse que, inicialmente, a tendência é de alinhamento entre Legislativo e Executivo. Mas que isso muda com o tempo. "No começo eles jogam junto com o presidente. Depois, como é de praxe, cada um tem lá sua mania, seu apetite. Então segura uma matéria, para o presidente ceder alguma coisa", alertou.
Ele observou, ainda, que é importante o presidente da República ter boa relação com os congressistas. "Eu sempre tive apoio. Eu fui parlamentar, como Bolsonaro também foi. Só que ele parece que foi menos atuante do que eu era na minha época. Então, tem conversar com os parlamentares e receber, falar, tal, ouvi-los. E ouvi-los não quer dizer que você está de acordo. Mas dá um sinal de que você costuma levar em consideração", orientou.
Poder em Foco
A entrevista completa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso será exibida no próximo domingo (7), no SBT, logo após o Programa Silvio Santos. O Poder em Foco é apresentado por Roseann Kennedy, que semanalmente recebe um jornalista convidado. Nesta semana é Marcelo de Moraes, do jornal O Estado de São Paulo.