Número de crianças baleadas no Rio de Janeiro chega a 15 no ano
Especialistas alertam para os impactos físicos e psicológicos causados pelos traumas em vítimas infantis
Liane Borges
Chegou a 15 o número de crianças baleadas no Rio de Janeiro e na região metropolitana desde o início de 2025. Três delas morreram e 12 ficaram feridas. A violência representa um trauma profundo para as famílias e um desafio constante para os profissionais de saúde que atuam nos atendimentos de emergência.
O caso mais recente é o de uma menina de um ano, atingida na cabeça enquanto estava dentro do carro do pai, na Baixada Fluminense, na última terça-feira (18). Ela passou por cirurgia e se recupera bem. Os médicos conseguiram retirar a bala.
Segundo o coordenador da emergência pediátrica Isaac Teodoro Souza, o tratamento de crianças feridas por arma de fogo exige cuidados específicos. "A criança tem menos reserva fisiológica, os órgãos são muito próximos uns dos outros e qualquer trauma pode gerar um estrago muito maior. Elas também são mais suscetíveis à infecção", explica.
Além dos impactos físicos, os traumas causam sérias consequências psicológicas. A neuropsicóloga Amanda Bastos alerta que episódios de violência podem alterar profundamente a rotina e o comportamento infantil. "Falas durante o sono, enurese noturna — o famoso xixi na cama — alterações e medo de se afastar das figuras de apego, preocupação excessiva quando os pais se ausentam, são reações comuns", detalha.
No longo prazo, os efeitos podem se intensificar. "Essas crianças também podem apresentar sintomas de ansiedade social, por receio de exposição ou sensação de vulnerabilidade. Em alguns casos, o impacto é tão grande que observamos regressão nos marcos de desenvolvimento", completa Amanda.
A crescente violência armada no estado preocupa especialistas e reforça a urgência de políticas públicas voltadas à proteção da infância e à redução da letalidade nas comunidades mais afetadas.









