Menores a serviço do tráfico do Rio: projetos e exemplos positivos mostram caminhos para recomeçar
Um terço dos menores infratores no estado do Rio de Janeiro está no tráfico, mas histórias de superação mostram que é possível dar a volta por cima

SBT Brasil
No estado do Rio de Janeiro, um terço dos menores infratores cumpre medidas socioeducativas por envolvimento com o crime. No lugar de cadernos, armas. Cada vez mais cedo, esses jovens são aliciados pelo tráfico. "Tentei trabalhar pra sustentar a família...", conta um dos jovens que entrou para o crime ainda adolescente.
O número de menores apreendidos no Rio aumentou quase 15% entre 2022 e 2024, segundo o Instituto de Segurança Pública - foram de 4.281 para 4.919 casos. A tendência de crescimento continuou nos dois primeiros meses de 2025, com aumento de 767 para 880 apreensões em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Para a polícia, os adolescentes são mais facilmente aliciados porque acabam recebendo punições mais brandas. "Há alguma benesse de natureza legal que faz com que a relação custo-benefício, em se tratando de crime e sanção, fique mais interessante no caso de um menor praticando crime, em comparação a um maior", explica Carlos Antônio Oliveira, subsecretário de Polícia Civil do RJ
+ Ação que vitimou PM em Suzano tinha criminosos peruanos como alvo
Um ciclo de violência que exige ação conjunta para ser enfrentado. Para Oliveira, não basta apenas a atuação policial - é necessário o envolvimento de todas as instituições da sociedade. Para isso o governo criou há dois anos um programa de capacitação para atender os 92 municípios fluminenses.
"O adolescente, uma vez que se reinsere no mercado de trabalho, muda também o meio em que vive. Ele acaba sendo referência ali para sua família, para os seus", afirma Arthur Souza, subsecretário de Estado da Criança e do Adolescente.
A proposta inclui uma parceria com a iniciativa privada. "As empresas precisam entender seus objetivos sociais. É uma via de ganha-ganha: em primeiro lugar, o adolescente ganha, que é o destinatário final de qualquer política. Consequentemente, a sociedade ganha porque estamos reduzindo os níveis de criminalidade, então as ruas vão ficar mais seguras", completa Souza.
Entre os jovens que conseguiram sair do crime, está o cantor VN Vinte, que entrou para o tráfico ainda menor de idade, mas decidiu mudar de vida. A música e o trap abriram um novo caminho. "É meio difícil explicar essa parte. Geral já sabe que eu sou cantor, rapper. E, tipo, se eu tiver fazendo alguma coisa errada, os outros vão me questionar, então tu já anda com esse peso", conta VN.
+ Repórter do SBT fica em meio ao fogo cruzado em operação no Rio de Janeiro
Ele se considera um sobrevivente: "Tô aí desde 2007. Muita chacina eu sobrevivi, graças a Deus. Todos os meus amigos estão mortos".
Foi a experiência no crime que o motivou a criar o projeto "Sobreviventes", onde jovens aprendem a produzir suas próprias músicas. "Tô montando uma produtora agora também pra ajudar diversos artistas a sair do crime. Porque todos destratam quem é da favela. Ninguém quer dar uma ajuda pra um favelado."
A música se tornou um instrumento de resistência e esperança. "Nós temos que ser fortes e ter sabedoria. Vamos realizar esse projeto aí da música", diz.