Mãe de motorista do Porsche tentou atrapalhar investigações, diz Ministério Público
Promotora do MP-SP afirma que mãe do empresário agiu para evitar flagrante ao dizer que levaria o filho ao hospital sem fazer o teste do bafômetro
A promotora Monique Ratton, do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), afirmou em manifestação à Justiça paulista que o empresário Fernando Sastre Andrade Filho, de 24 anos, e a mãe dele, Daniela Andrade, agiram para “atrapalhar as investigações” sobre o acidente provocado por ele com o seu Porsche, que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos.
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O acidente aconteceu na madrugada do último domingo (31), na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Fernando estava com um amigo no Porsche quando bateu em alta velocidade na traseira do carro de Ornaldo. A mãe do empresário foi ao local, e os policiais permitiram que ela levasse o filho dali, com a justificativa de que ele iria ao hospital, sem fazer o teste do bafômetro. Mãe e filho acabaram indo para casa e Fernando só se apresentou à polícia 38 horas depois.
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“Vislumbro a prática de atos a fim de atrapalhar as investigações, tanto pelo investigado, quanto por sua genitora Daniela Cristina De Medeiros Andrade especialmente quanto à possível frustração da elaboração do exame de alcoolemia do condutor do veículo”, afirmou a promotora.
Segundo depoimento de uma amiga que estava com Fernando na noite do acidente, o empresário ingeriu drinks no jantar e discutiu com a namorada porque ela não queria que ele dirigisse por estar “um pouco alterado”, logo após saírem de uma casa de poker que funciona no sistema de “open bar” — ou seja, o cliente paga uma taxa fixa de consumação e tem direito a beber o que quiser.
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Para a promotora, Fernando e a mãe “agiram de forma a tentar se furtar da aplicação da lei penal, já tendo desrespeitado solicitações policiais durante o momento do flagrante do crime”.
Imagens exclusivas obtidas por Fabio Diamante e Robinson Cerantula mostram Fernando, a namorada e dois amigos saindo juntos do local. Elas foram gravadas pela câmera de segurança de uma oficina mecânica que fica na mesma rua. Fernando e a namorada parecem discutir e, na sequência, ele e o amigo entram no Porsche, enquanto a namorada entra num segundo carro.
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Vídeos mostram que momentos depois, o Porsche do empresário, avaliado em mais de R$ 1 milhão, estava em alta velocidade quando atingiu o Renault Sandero de Ornaldo. O limite de velocidade na via é de 50km/h. À Polícia Civil, Fernando negou ter ingerido bebidas alcoólicas, mas admitiu que estava “um pouco acima do limite de velocidade”.
Em depoimento à polícia, a sócia-proprietária do clube de pôquer disse que Fernando Filho chegou ao local por volta de 23h30 de sábado e saiu aproximadamente 2h. Ela disse não ter visto o que ele bebeu, mas afirmou que todos os clientes podem comer e beber à vontade mediante a taxa de entrada, que é de R$ 300.
Segundo testemunhas, Fernando trafegava em “altíssima velocidade” e aparentava sinais de embriaguez, como “voz pastosa” e andar cambaleante. Uma delas relatou que havia garrafas verdes dentro do Porsche.
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Fernando foi indiciado por homicídio com dolo eventual, lesão corporal e fuga de local de acidente. O pedido de prisão temporária feito pela polícia foi negado pela Justiça. Já a mãe do empresário foi indiciada por fraude processual, porque ela inviabilizou que Fernando fosse submetido a exames toxicológicos.
Além disso, a conduta dos policiais militares que liberaram Fernando Filho também será investigada. A Polícia Militar informou que instaurou uma investigação preliminar para apurar as circunstâncias.