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Loja acusa menino de 7 anos de furtar bolacha, e família denuncia racismo

Caso foi registrado em estabelecimento na zona leste de São Paulo; advogado comenta: "precisamos utilizar as decisões históricas para pessoas comuns"

Loja acusa menino de 7 anos de furtar bolacha, e família denuncia racismo
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Uma loja de doces em Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, acusou um menino de 7 anos de furtar um pacote de bolacha, na última quinta-feira (22). Diante da situação humilhante, a família do jovem afirmou que vai processar o estabelecimento por racismo.

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A criança estava com a mãe, que fazia compras na loja para o aniversário do filho, quando o gerente do local abordou a família dizendo que viu o menino pegando o produto. Confrontado pela mulher, o funcionário foi analisar as imagens das câmeras, nada constatando.

Um vídeo registrado pela mãe mostra o menino desabafando: "Eu não roubei nada", disse o garoto, assustado.

Após a situação, o gerente pediu “desculpas” pelo equívoco. A mãe da criança falou sobre o caso nas redes sociais logo após o ocorrido, enquanto aguardava o funcionário na loja, e disse que vai processar a Magic Doces. O local publicou uma nota nas redes, dizendo que não compactua com discriminação e preconceito, mas desativou os perfis após críticas dos usuários e seguidores.

"Somos negros, mas somos honestos. Isso foi racismo, preconceito", escreveu Giovanna Oliveira. Ela e o filho estavam no local fazendo compras para o aniversário da criança, na sexta-feira (23). A empresa afirmou que o funcionário envolvido “está sendo orientado” e que, se for “constatada qualquer irregularidade, todas as providências serão tomadas para que nenhuma ocorrência semelhante venha a ocorrer”.

O caso foi registrado no 44º Distrito Policial de Guaianazes como calúnia. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o caso segue sendo investigado pelo 54° DP da Cidade Tiradentes. A polícia vai ouvir os envolvidos e analisar as imagens das câmeras de segurança.

Advogado: “precisamos utilizar as decisões históricas para pessoas comuns”

“A gente sente isso na pele, e mesmo quem não é negro também sente, porque a gente já está cansado. Tem que dar um basta nesse tipo de atitude”, afirmou o advogado José Luiz de Oliveira Júnior, que defende o caso, em entrevista ao vivo para o Primeiro Impacto.

“As empresas precisam ter pessoas mais qualificadas. A criança, graças a Deus está bem, porque tem uma mãe com uma autoestima e, principalmente, um instinto de preservação dos seus e dela mesmo muito grande. E o que está acontecendo é uma revolução de consciência. As pessoas hoje possuem consciência ao ponto de compreender que sua maior arma é o celular, é a imagem, colocar isso para o grande tribunal das pessoas: a internet”, pontuou o advogado.

Questionado sobre a quantidade crescente de denúncias de racismo, o advogado afirmou que:

“infelizmente a gente tem uma chamada ‘herança maldita’ de 388 anos de escravidão que simplesmente moldou o nosso sistema econômico. Nós não percebemos e dizemos: ‘nossa, vai se falar ainda nisso?’ Claro. Nosso país tem pouco mais de 500 [anos]. Isso foi um pouco antes. A minha bisavó era escravizada. Então, infelizmente, a gente precisa equiparar as relações existenciais e isso está introjetado nas pessoas. Por isso a importância de políticas públicas nesse acesso, e especialmente a discussão desses casos. E digo mais: os casos não aumentaram, eles agora são apenas mostrados”.

O advogado disse que a mãe do garoto passou por um “constrangimento” na delegacia, ficando “horas para registrar um boletim de ocorrência”.

“O descaso, inclusive, do formato, do atendimento, porque colocaram como calúnia. Não é tão somente calúnia, a gente precisa dar nomes aos bois. O que aconteceu, sim, foi discriminação racial e hoje, depois de janeiro de 2023, é equiparado ao racismo sim. Nós já tivemos uma decisão que foi histórica, que foi a condenação da agressora da filha do Bruno Gagliasso. Hoje precisamos utilizar as decisões históricas para pessoas comuns, para as pessoas do dia a dia. Posteriormente, o que vai acontecer, é efetivamente a gente exigir uma indenização por dano moral sim. E o importante é existir processo, tem que existir sentença. Essas pessoas precisam começar a ser condenadas. É importante o poder pedagógico da condenação, especialmente a conscientização das empresas que precisam investir em um excelente tratamento para os seus funcionários”, finalizou Oliveira Júnior.
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