Facções expulsam famílias de casas e deixam distrito deserto no interior do Ceará
Em um ano e nove meses, estado registrou mais de 200 casos de expulsão de moradores por grupos criminosos

Pâmela Marinho
Ricardo Taíra
Desde agosto, 42 pessoas foram presas no Ceará, suspeitas de expulsar moradores de suas casas. De acordo com a Polícia Civil, o objetivo dos criminosos é usar os imóveis como esconderijos para facções.
No pequeno distrito da zona rural de Morada Nova, no interior do estado, o cenário é de cidade fantasma. Cerca de 300 famílias foram obrigadas a abandonar suas casas após ameaças de grupos criminosos.
Em Pacatuba, na região metropolitana de Fortaleza, a situação se repetiu. Criminosos expulsaram famílias de pelo menos 30 residências, em setembro.
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Um relatório da Polícia Civil do Ceará aponta que o estado registrou 219 ocorrências de expulsões de moradores por facções criminosas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025 — um período de um ano e nove meses. Somente em Fortaleza, foram 143 casos em 52 bairros.
Muitas das comunidades atingidas já enfrentam vulnerabilidade social, marcada por pobreza, falta de serviços básicos e exclusão. Segundo o relatório, “essa situação tem impacto direto sobre a juventude, que acaba sendo recrutada para atividades ilícitas, seja por coação, seja pela ausência de oportunidades”.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Ceará, 42 suspeitos foram presos desde agosto, acusados de participação nesses deslocamentos forçados.
O delegado Jaime de Paula Pessoa afirma que apenas a presença policial não é suficiente para conter o problema. “Fazer a prisão ou a permanência da polícia em determinado local é enxugar gelo. Nós temos, na verdade, que fazer a ocupação do estado como um todo”, diz.
“Uma ação social mais presente, com trabalho e emprego, com educação e várias outras iniciativas do estado depois da faxina que a polícia venha a fazer”, completa o delegado.
Mesmo dentro da capital, há conjuntos habitacionais dominados pelo crime organizado e com número cada vez menor de moradores, que vivem com medo da violência.
O delegado explica que as expulsões estão ligadas à tentativa das facções de expandir o controle territorial. “É uma política do crime organizado em cima dessa expansão de território. Temos as expulsões quando o morador não atende às exigências impostas pela organização criminosa do local — como pagar pedágio ou transformar a casa em depósito de armas ou rota de fuga”.






