Conselho Tutelar acompanhava menina encontrada morta em lixeira no RS desde 2023
Inquérito revela que Kerollyn Ferreira estava em acompanhamento psicossocial, mas tratamento foi abandonado
Luciane Kohlmann
Um mês após o corpo da menina Kerollyn Ferreira, de nove anos, ser encontrado dentro de um contêiner de lixo em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, novos detalhes do caso vieram à tona. Documentos mostram que o Conselho Tutelar acompanhava a família desde outubro de 2023, após denúncias de negligência e violência familiar.
Uma psicóloga responsável pelo caso relatou que o tratamento de Kerollyn havia sido interrompido pela família, o que gerou preocupações. Dois dias antes da morte da menina, uma conselheira tutelar registrou que Kerollyn faltou a uma consulta no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), e se ofereceu para levá-la pessoalmente. A mãe, porém, prometeu que a levaria na semana seguinte.
Segundo depoimentos obtidos pela polícia, uma professora relatou que Kerollyn chegava à escola mal agasalhada e reclamava de fome. Além disso, a menina apareceu com um ferimento na cabeça, dando várias versões para a lesão, uma delas envolvendo a mãe, que teria acertado a filha com um ferro.
Kerollyn foi encontrada morta na manhã de 9 de agosto, no interior de um contêiner de lixo. De acordo com as investigações da polícia, a mãe teria dado um sedativo à filha antes de dormir, mas a criança saiu de casa à noite para buscar algo na rua. A causa da morte foi uma combinação de fatores: o efeito da medicação, a posição em que Kerollyn caiu na caçamba e o frio intenso daquela noite.
O inquérito também inclui trocas de mensagens entre um denunciante e o Conselho Tutelar, que alertavam para o fato de a criança ser frequentemente vista sozinha nas ruas, pedindo comida e água entre junho e julho deste ano.
A mãe de Kerollyn chegou a ser presa, mas foi liberada no último sábado. Ela foi indiciada por maus-tratos e violência psicológica. A defesa alega que irá provar sua inocência. O pai da menina também é investigado por suspeita de abandono material e violência psicológica, mas os advogados dele afirmam que ele era um pai dedicado. O Ministério Público segue analisando o caso para decidir se apresentará denúncia à Justiça.