"Eles não viram as fantasias brilhando?", questiona mãe de jovem morto em festa junina no Rio
Herus Guimarães Mendes da Conceição, de 24 anos, foi atingido na barriga durante operação do Bope no Morro Santo Amaro; governador afastou PMs envolvidos

Emanuelle Menezes
Em um depoimento emocionado, a mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição, jovem de 24 anos morto durante uma operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) em uma festa junina no Morro Santo Amaro, na zona sul do Rio de Janeiro, questionou a ação dos policiais e pediu por justiça (veja o vídeo abaixo).
"Eles não viram as fantasias brilhando?", questionou Mônica Guimarães Mendes em uma manifestação contra a violência nas favelas, neste domingo (8), no acesso à comunidade.
Mônica afirmou ainda que um agente do Bope arrastou o corpo de Herus após encontrá-lo baleado, dizendo que o jovem era vigia do tráfico. "O policial arrastou o meu filho pela escada e gritou que meu filho era vigia [do tráfico]. Botou uma grade para ninguém socorrer o meu filho", declarou.
A mãe do rapaz, que trabalhava como office boy em uma imobiliária e deixa um filho de dois anos, contou que os dois assistiam às apresentações das quadrilhas juninas quando ele foi comprar um lanche. Nesse momento, começou o tiroteio.
"Meu filho morreu com o telefone aberto no pagamento de Pix. Ele tava pagando lanche para trazer pra gente. Meu filho foi alvejado na barriga, botou a mão e caiu", narrou.

"Ele foi criado com tanto amor! Eu vigiei meu filho, tomei conta, fui atrás para o meu filho não entrar para essa vida. Porque eu não queria perder meu filho. Eu não queria enterrar o meu filho. Meu filho que tinha que me enterrar. E a polícia, que devia proteger, tirou a vida do meu filho. Ainda não deixaram a gente socorrer. Eu só quero justiça pelo meu filho!", prosseguiu Mônica.
Herus chegou a ser socorrido em estado gravíssimo para o Hospital Glória D'Or, também na zona sul, mas morreu após diversas manobras de reanimação. Outras cinco pessoas, incluindo um adolescente, ficaram feridos na ação. A Polícia Civil afirmou que nenhum deles tem envolvimento com o tráfico.
Policiais exonerados e afastados
No domingo, o governador Cláudio Castro (PL) exonerou o coronel Aristheu de Góes Lopes, comandante do Bope, e o coronel André Luiz de Souza Batista, do Comando de Operações Especiais (COE). Além deles, 12 policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas preventivamente.
O afastamento foi anunciado nas redes sociais de Castro. Ele pediu que as investigações sejam realizadas "com extremo rigor e agilidade, também por parte da Polícia Civil e da Corregedoria Interna da PM". O governador também afirmou que as imagens gravadas pelas câmeras corporais dos policiais serão analisadas.
Em nota, a Corregedoria da PM afirmou que os agentes que participaram da operação foram ouvidos e as armas utilizadas foram disponibilizadas para perícia. "A Secretaria de Estado de Polícia Militar segue colaborando integralmente com as investigações e reitera seu total compromisso com a transparência e elucidação dos fatos", diz a nota.
Após a operação, a tropa de elite da Polícia Militar justificou que a ação, considerada emergencial, foi realizada para "checar informações sobre a presença de diversos criminosos fortemente armados reunidos na comunidade se preparando para uma possível investida de criminosos rivais visando uma disputa territorial na região".
Ainda segundo o Bope, bandidos teriam atirado contra os policiais que, inicialmente, não revidaram. "Em outro ponto da comunidade, os criminosos atacaram as equipes novamente, gerando confronto", diz o comunicado da PM.
O Ministério Público afirmou que a operação no Morro Santo Amaro foi comunicada ao órgão.