Crime e abandono: os problemas da CEAGESP revelados em série do SBT Brasil
Maior entreposto de alimentos da América do Sul, a CEAGESP, enfrenta tráfico de drogas, prostituição e insegurança

Rafael Batalha
Thiago Dell'Orti
A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) é o maior centro de distribuição de alimentos da América Latina. Em 2023, foram comercializadas 3 milhões de toneladas de produtos vindos de 1.400 cidades brasileiras, 24 estados e 26 países. No entanto, o local também enfrenta problemas graves, como tráfico de drogas, prostituição e insegurança.
O SBT Brasil inicia a série de reportagens "Depósito do Crime", que expõe este outro lado da realidade da Ceagesp. No primeiro episódio, os repórteres Rafael Batalha e Cristian Mendes revelam como o tráfico de drogas opera livremente entre os milhares de trabalhadores e comerciantes do local.
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Tráfico à luz do dia
Em uma área de 230 mil metros quadrados na zona oeste de São Paulo, cerca de 50 mil pessoas circulam diariamente pelo entreposto. A equipe de reportagem do SBT passou dez dias observando essa movimentação e flagrou a atuação dos traficantes.
"É um problema crônico", afirma um frequentador da Ceagesp há 18 anos, que preferiu não se identificar. "Você consegue não só adquirir a droga, como também encontra locais próprios para o uso".
Os traficantes atuam com naturalidade e são conhecidos dos permissionários – comerciantes que pagam taxas para operar no local. Em questão de minutos, os criminosos atendem vários clientes em busca de cocaína.
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Sem segurança e sem controle
A reportagem também identificou que há dezenas de pontos de tráfico e consumo espalhados pelo entreposto. No setor de melancias, traficantes escondem drogas em pneus de caminhões para evitar flagrantes.
A região da grade, que separa o entreposto da Avenida Professor Ariovaldo da Silva, se transformou em uma nova "cracolândia", segundo um entrevistado. "O mais assustador é que está entrando no entreposto", alerta.
A segurança da Ceagesp é feita por uma empresa terceirizada. No entanto, há relatos de que os seguranças não intervêm na venda de drogas. "Eles veem, mas dizem que foram contratados apenas para proteger o patrimônio", denuncia um frequentador.
A equipe do SBT testou a facilidade para comprar drogas no local. Em duas tentativas, o produtor conseguiu adquirir cocaína rapidamente. Em uma delas, um segurança apareceu, mas apenas orientou os presentes, sem impedir a negociação.
O problema se repete há anos
O acesso ao entreposto é livre, sem controle de entrada. "Se não há um controle de portaria e se a Ceagesp permite a entrada de qualquer pessoa, isso agrava ainda mais o problema", explica outro entrevistado.
Após a denúncia exibida pelo SBT Brasil, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo informou que mantém um intenso diálogo e parceria com a Polícia Militar para reforçar a segurança no local.
A Ceagesp destacou que conta com um efetivo de 244 vigilantes terceirizados, que atuam em dois turnos, diurno e noturno, para garantir maior proteção a comerciantes e clientes que circulam diariamente pelo entreposto.
No entanto, a Companhia ressaltou que o controle individual de acesso dos cidadãos é inviável, devido à grande movimentação no local, que recebe cerca de 50 mil pessoas por dia.
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A série "Depósito do Crime" segue nos próximos episódios, trazendo mais detalhes sobre a situação da Ceagesp e o impacto para comerciantes, trabalhadores e consumidores.