Bicheiro Bernardo Bello é alvo de operação por morte de advogado no Rio
Este é o 5º mandado de prisão para o contraventor que está foragido desde o ano passado
Raíza Chaves
A Polícia Civil do Rio e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) realizam na manhã desta quinta-feira (7) a 3ª fase da Operação Ás de Ouros. A operação tem como alvo de prisão preventiva oito integrantes de uma organização criminosa, incluindo o contraventor Bernardo Bello, no inquérito da morte do advogado Carlos Daniel Ferreira Dias, em maio de 2022, em Niterói. Este é o 5º mandado de prisão contra o bicheiro.
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Nesta fase, o GAECO/MPRJ denunciou 13 pessoas à Justiça pelos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. Também estão sendo cumpridos oito mandados de busca e apreensão em endereços de pessoas físicas e jurídicas em São João de Meriti, Penha Circular, Nova Iguaçu, Freguesia e Barra da Tijuca. Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Criminal Especializada da Capital.
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A 1ª fase da Operação Ás de Ouros foi em julho de 2022, e a 2ª, um ano depois.
As investigações tiveram apoio do recém-criado Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra) e do Gabinete de Recuperação de Ativos (GRA).
O crime
No dia 31 de maio de 2022, o advogado Carlos Daniel Dias André, de 41 anos, foi morto a tiros na Região Oceânica de Niterói. Um homem em uma moto preta se aproximou do veículo que a vítima estava e atirou. O carro do advogado estava com um dispositivo de GPS para monitorar seus passos.
Carlos Daniel era ex-policial civil e foi expulso da corporação em 2011, após ter sido preso pela Polícia Federal transportando traficantes que tentavam escapar do cerco à Favela da Rocinha para a implantação da UPP.
Carlos Daniel atuou pontualmente como o advogado de Julia Lotufo, mulher do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto em confronto na Bahia, em fevereiro de 2020). Ela foi alvo do Ministério Público por suspeita de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
No momento em que Julia tentou fazer um acordo de delação premiada, o advogado entrou de vez na mira do contraventor Bernardo Bello.
Bernardo Bello
De acordo com as investigações, Bernardo Bello Pimentel Barboza é apontado como um dos chefes do jogo do bicho no Rio de Janeiro. O posto foi assumido após romper com a mulher e com toda a família Garcia.
No meio dessa briga, Bernardo foi presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel.
Foragido desde novembro do ano passado, Bernardo é procurado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Atualmente, ele responde por três crimes. São eles: a morte de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, tio da ex-mulher; lavagem de dinheiro; e, agora, o homicídio do advogado Carlos Daniel Dias André.
Família Garcia
Bernardo Bello se casou com Tamara Harrouche Garcia, filha de Waldermir Paes Garcia, o Maninho - herdeiro do jogo do bicho -, assassinado em setembro de 2004. Com a morte de Maninho, os negócios dos Garcias seriam herdados pelo irmão dele, Bid.
Rivais na disputa por pontos de jogo do bicho e máquinas caça-níqueis, Bid teve os pontos tomados por Bello. Em 2020, o irmão de Maninho foi metralhado com dezenas de tiros de fuzil na porta de seu condomínio, quando voltava da Marquês de Sapucaí.
Quase dois anos depois, Bernardo, apontado como mandante da morte de Bid, acabou preso pela Interpol na Colômbia - ele constava da Difusão Vermelha (Red Notice), a lista dos mais procurados de cada país. A Justiça aceitou a denúncia do MPRJ, e o tornou réu.
Bello ficou detido na Colômbia até maio do ano passado, quando obteve um habeas corpus, e voltou ao Brasil, respondendo ao atentado em liberdade.
Lavagem de dinheiro
Desde novembro do ano passado, Bello voltou a ser procurado, na Operação Fim da Linha, por corrupção e lavagem de dinheiro. A investigação começou com a notícia-crime sobre um bingo clandestino em Copacabana, zona sul do Rio, que funcionaria com a permissão de policiais militares.
O Gaeco identificou o responsável por confeccionar as cartelas para este e outros bingos ilegais explorados por várias organizações criminosas no Rio de Janeiro. De acordo com o MPRJ essas quadrilhas, a fim de potencializar os lucros, utilizam diferentes modos de fraudar os resultados dos jogos, corrompem PMs e de violência para conquistar território.
Em março deste ano, a Justiça expediu mais um mandado de prisão contra Bello, também por lavagem de dinheiro. O contraventor está foragido desde então. Na época, o MPRJ denunciou o ex-jogador Emerson Sheik (apelido de Marcio Passos Albuquerque). Segundo a investigação, Bello e Sheik fizeram uma permuta de uma cobertura do ex-jogador por uma casa na Barra da Tijuca.
Apesar de declararem que não havia valor envolvido, Bello transferiu 'à margem da transação imobiliária formal', em quatro depósitos em espécie, de R$ 473.550, para Sheik 'utilizados clandestinamente como parte do pagamento pela aquisição de imóvel'. Os valores não passaram por contas bancárias de Bello, e não foram registrados nas escrituras.
Segundo os investigadores, a Unidos de Vila Isabel, escola de samba da qual Bernardo Bello atuou como presidente, foi utilizada, entre 2014 e 2015, para lavagem de dinheiro, 'oriundo, sobretudo, da contravenção do jogo do bicho e da exploração de máquinas caça-níqueis'.
Desde o início de 2024 começou uma nova guerra da contravenção em áreas dominadas por Bello. Nos ataques a tiros, dois homens foram mortos, ambos ligados a Bernardo. Outras cinco pessoas ficaram feridas.