“Ninguém quer ficar como traidor de Bolsonaro”, diz analista sobre governadores presidenciáveis
Presidente reúne gestores estaduais em ato na Avenida Paulista, neste domingo (6)
Lara Curcino
Jésus Mosquéra
A analista política Isabela Kalil, coordenadora do Observatório da Extrema Direita, analisa o impacto político das manifestações do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em prol do projeto de lei que prevê a anistia dos condenados pelo 8 de janeiro. Ele realizou um ato na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), neste domingo (6), duas semanas após um evento similar no Rio de Janeiro (RJ).
Isabela comentou sobre os governadores que começam a se lançar como presidenciáveis, como o do Paraná, Ratinho Júnior (PSD); de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); de Goiás, Ronaldo Caiado (União); e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo ela, há uma “relação ambígua” entre eles, por terem o mesmo objetivo do ex-presidente - que, apesar de se colocar como candidato para 2026, está inelegível -, mas também terem o receio de desassociar suas imagens da de Bolsonaro.
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“É uma relação ambígua. São ‘adversários políticos’, estão rivalizando e têm disputas internas, no entanto ninguém quer pagar o preço de ficar como traidor do bolsonarismo. É como se eles pensassem: nós não queremos Bolsonaro, mas queremos o eleitor dele”, avaliou ela.
Ato na Paulista
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e parte de seus apoiadores promovem, na tarde deste domingo (6), uma manifestação pela anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. O ato começou às 14h e acontece na Avenida Paulista, em São Paulo. Um grupo de sete governadores confirmou a presença.
Pela manhã, esse grupo esteve em um encontro com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e com o presidente Bolsonaro. + PL decide seguir com estratégia de obstrução na Câmara para pressionar projeto da anistia
O ato também está sendo organizado pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. A ideia do movimento é pressionar os deputados federais e senadores a aprovarem um projeto de lei que prevê anistiar todos os condenados pelo ataque aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Entre analistas políticos, há a avaliação de que o ato servirá para demonstrar o tamanho do apoio pessoal da população ao ex-presidente. No mês passado, Bolsonaro se tornou réu pelos crimes de: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Ele nega os delitos.
Réu no STF
Em meio à pressão pelo PL da anistia, Bolsonaro e outras sete pessoas se tornaram réus no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que investiga um suposto planejamento de golpe de Estado para impedir que Lula (PT) assumisse a Presidência em 2023. O processo leva em conta o 8 de janeiro como uma das provas materiais do plano golpista. Os ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino, Alexandre de Moraes, Luiz Fux e Cármen Lúcia consideraram que a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) tem fundamentos válidos para justificar uma ação penal.
Dessa forma, Bolsonaro e seus aliados serão julgados pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado.
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Além de Bolsonaro, tornaram-se réus os seguintes envolvidos: o deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem; o ex-comandante da Marinha Almir Garnier; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; o ex-ajudante de ordens Mauro Cid; o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa Walter Braga Netto.
Agora, o processo entra na fase de instrução processual, quando são colhidas mais provas e depoimentos de testemunhas e acusados. A expectativa é que o julgamento seja finalizado ainda sob a presidência de Luís Roberto Barroso à frente da Corte, no primeiro semestre.