PF prende 4 em operação contra divulgação de fake news em eleições municipais no RJ
Investigação aponta que criminosos influenciaram pelo menos três pleitos, desde o de 2016; pessoas recebiam R$ 2 mil por mês para espalhar notícias falsas
Felipe Moraes
Quatro pessoas foram presas pela Polícia Federal (PF) na operação Teatro Invisível, nesta quinta-feira (12), em ação contra esquema criminoso de divulgação de fake news (notícias falsas) em eleições municipais no Rio de Janeiro. Suspeitos atuavam pelo menos desde 2016 e influenciaram três pleitos para prefeito em mais de 10 municípios do estado.
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Além dos mandados de prisão preventiva, agentes também cumpriram 15 ordens de busca e apreensão, expedidas pelo Juízo da 8ª Zona Eleitoral do Estado do Rio de Janeiro. Também houve bloqueio judicial de R$ 1 milhão de cada investigado. Os presos serão encaminhados à Superintendência da PF no estado.
No fim da manhã, a PF divulgou balanço final de apreensões na força-tarefa: R$ 188.300 em espécie, três veículos de luxo blindados, celulares, dispositivos eletrônicos, mídias de armazenamento e documentos.
Pagamento de R$ 2 mil para espalhar notícias falsas
A PF descobriu que líderes da organização criminosa já ocuparam funções públicas em diversas cidades do RJ. Assim, conseguiram montar esquema "sofisticado e lucrativo baseado na contratação de pessoas com objetivo de influenciar no processo eleitoral de diversos municípios".
Segundo a corporação, pessoas contratadas recebiam R$ 2 mil por mês para espalhar notícias falsas nas cidades sobre um determinado candidato à prefeitura.
Esses divulgadores circulavam em locais com aglomeração de gente, como pontos de ônibus, padarias, filas de banco, bares e mercados, para disseminar fakes "sobre um determinado postulante ao cargo de prefeito, no intuito de beneficiar o candidato para o qual o serviço criminoso fora contratado".
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Coordenadores da divulgação de mentiras recebiam R$ 5 mil mensalmente dos líderes do esquema, além de serem contratados pela própria prefeitura da cidade em questão.
"No ano eleitoral, quando o esquema entrava em vigor, os coordenadores eram exonerados de seus cargos e substituídos por 'laranjas' — possíveis funcionários fantasmas —, a fim de manter o 'direito' sobre eles", detalhou a PF, em nota.
A propaganda de notícias falsas também passava por um "processo de aferição de resultado", conforme a PF. "Através da elaboração de relatórios diários das atividades, com a especificação da quantidade de eleitores abordados por dia, número de votantes em cada candidato e o total de eleitores convertidos para o candidato beneficiário do esquema criminoso", explicou a polícia.
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A maior parte dos membros residia e atuava em São João de Meriti (RJ), na Baixada Fluminense, mas a PF comprovou que esquema também foi "exportado" para pelo menos outras dez cidades do RJ.
A investigação foi liderada pela Divisão de Repressão a Crimes Eleitorais (DRCE) e Delegacia de Direitos Humanos e Defesa Institucional (DELINST) da PF no Rio de Janeiro, com apoio do Ministério Público Eleitoral.
Crimes investigados
+ Organização criminosa;
+ Desvio de funcionários públicos para atuação no grupo criminoso;
+ Utilização de "laranjas" para burlar incompatibilidades com exercício da função pública;
+ Lavagem de dinheiro;
+ Constrangimento ilegal de servidores (assédio eleitoral);
+ E tipos penais ligados à divulgação de fake news e/ou desinformação, previstos no Código Eleitoral.