Ucrânia busca autorização para uso de mísseis em território russo; Putin ameaça com armas nucleares
Em evento nos Estados Unidos, o foco era a reconstrução da Ucrânia, mas as atenções se voltaram para as negociações sobre o uso de mísseis de longo alcance
Sérgio Utsch
A Ucrânia continua seus esforços diplomáticos para obter autorização dos aliados para usar mísseis de longo alcance em território russo. Durante um evento em Nova York, nesta quinta-feira (26), que discutia a reconstrução do país, o assunto predominante foi o pedido de Kiev para o uso dos Storm Shadows, mísseis produzidos pelo Reino Unido e pela França, com tecnologia norte-americana. Esses armamentos podem atingir alvos a até 250 quilômetros de distância e são capazes de atravessar camadas de concreto e aço antes de explodir.
Os ucranianos desejam utilizar os mísseis contra depósitos de armas russos, mas o avanço das negociações tem gerado reações de Moscou. O presidente russo, Vladimir Putin, fez um novo alerta, afirmando que pode considerar o uso de armas nucleares legítimo caso a Rússia seja atacada por um país sem ogivas nucleares, como a Ucrânia, com o apoio de nações que possuam esse tipo de armamento, como os Estados Unidos e o Reino Unido.
Putin também destacou que uma resposta nuclear russa pode ocorrer mesmo sem a utilização de armas nucleares no ataque inicial. Segundo ele, bastaria que mísseis, como os que a Ucrânia pretende usar, cruzassem a fronteira russa para desencadear uma resposta.
Os sinais de escalada militar vêm de ambos os lados. No discurso na ONU, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky criticou a proposta de congelar o conflito e iniciar negociações com a Rússia, o que, na visão dele, seria aceitar temporariamente a ocupação de territórios ucranianos reconhecidos pela lei internacional.
Em entrevista exclusiva, o embaixador russo no Brasil, Alexey Labetskvy contestou o voto de 143 países na ONU, incluindo o Brasil, que condenaram a anexação ilegal de territórios ucranianos pela Rússia. Labetskvy defendeu a ocupação, citando referendos considerados ilegais pela comunidade internacional, como o da Crimeia.
Apesar de o Brasil não reconhecer a Crimeia como parte da Rússia, o embaixador afirmou que Moscou continuará a considerar a região como território russo. Labetskvy também confirmou que Putin já recebeu o convite para o G20 no Brasil, mas ainda não tomou uma decisão sobre sua participação, mencionando ainda o mandado de prisão internacional contra o presidente russo, emitido pelo Tribunal Penal Internacional, do qual o Brasil é signatário.