Reino Unido e União Europeia estreitam laços e fecham acordos 5 anos após Brexit
Termos assinados devem reduzir burocracias comerciais, incentivar investimentos em defesa e facilitar mobilidade de britânicos e europeus

SBT News
O Reino Unido e a União Europeia (UE) assinaram uma série de acordos de cooperação em defesa e facilitação do comércio durante sua primeira cúpula formal desde o Brexit, nesta segunda-feira (19), em Londres.
Cinco anos após o Brexit, que marcou a saída do Reino Unido do bloco europeu, os laços voltam a se estreitar com o encontro do primeiro-ministro Keir Starmer e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, além de outros altos funcionários da UE.
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Segundo Starmer, os acordos vão reduzir a burocracia, impulsionar a economia britânica e redefinir as relações com o bloco comercial de 27 países. Já von der Leyen classificou as negociações como um “momento histórico” que beneficia ambos os lados.
"O Reino Unido está de volta ao palco mundial", declarou Starmer a repórteres. Ele elogiou os acordos firmados nesta segunda-feira — o terceiro pacote de acordos comerciais celebrado por seu governo em poucas semanas, após acordos com os Estados Unidos e a Índia — como sendo "bons para os empregos, para o bolso e para nossas fronteiras".
No entanto, partidos da oposição criticaram os acordos, alegando que representam um retrocesso em relação ao Brexit e uma nova “rendição” à União Europeia. “Estamos voltando a aceitar regras impostas por Bruxelas”, afirmou Kemi Badenoch, líder do Partido Conservador.
Principais acordos
Redução da burocracia no comércio de alimentos
Autoridades informaram que serão eliminadas algumas inspeções de rotina na fronteira para produtos animais e vegetais, com alinhamento às normas da UE, o que reduzirá os custos de importação e exportação de alimentos e facilitará o fluxo de mercadorias entre fronteiras.
Empresas vinham reclamando das longas esperas de caminhões nas fronteiras com alimentos perecíveis que não podiam ser exportados devido às exigências burocráticas pós-Brexit.
As mudanças permitirão que o Reino Unido volte a vender produtos como hambúrgueres crus, salsichas e frutos do mar para a UE. Os benefícios também se aplicarão aos fluxos entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte, onde as verificações alfandegárias pós-Brexit têm sido uma questão delicada há anos.
Apesar de a UE ser o maior parceiro comercial do Reino Unido, o governo afirmou que houve uma queda de 21% nas exportações desde o Brexit, devido ao aumento da burocracia e outras barreiras não tarifárias.
Acordo de aquisição de defesa
Uma nova parceria de segurança e defesa permitirá que a indústria de defesa britânica acesse um novo programa de empréstimos da UE no valor de 150 bilhões de euros (cerca de R$ 950 bilhões). Isso permitirá ao Reino Unido obter empréstimos a juros baixos garantidos pelo orçamento da UE para adquirir equipamentos militares, em parte para ajudar a Ucrânia a se defender.
A UE declarou que o programa visa fortalecer a prontidão da defesa europeia e permitir um apoio mais coordenado à Ucrânia.
Direitos de pesca
O acordo inclui a extensão, por 12 anos, de um pacto que permite a embarcações da UE operar em águas britânicas até 2038, o que gerou críticas por parte de pescadores britânicos e seus apoiadores.
Embora seja economicamente pouco relevante, a pesca sempre foi um ponto sensível e simbolicamente importante para o Reino Unido e países da UE como a França. Disputas sobre o tema quase inviabilizaram o acordo do Brexit em 2020.
Elspeth Macdonald, chefe da Federação de Pescadores da Escócia, chamou o acordo de “um pesadelo para os pescadores escoceses”, que teria sido concedido para garantir outros objetivos. O primeiro-ministro escocês, John Swinney, disse que o acordo representa “o oposto do que foi prometido com o Brexit”.
Facilitação de mobilidade para jovens
As restrições de visto pós-Brexit prejudicaram atividades transfronteiriças de profissionais como banqueiros e advogados, além de intercâmbios acadêmicos e culturais, incluindo turnês de bandas.
Reino Unido e UE disseram que concordaram em cooperar em um plano de mobilidade juvenil, que deve permitir que jovens britânicos e europeus vivam e trabalhem temporariamente nos territórios uns dos outros, embora nenhum detalhe tenha sido divulgado.
Autoridades britânicas insistiram que o número de participantes será limitado e as estadias terão prazo determinado.
A livre circulação de pessoas continua sendo um tema sensível no Reino Unido, e alguns defensores do Brexit veem o plano como um passo rumo à restauração total da livre circulação de cidadãos da UE no país. O Reino Unido possui acordos semelhantes com países como Austrália e Canadá.
Redução do tempo de espera em aeroportos
Cidadãos britânicos poderão usar os portões eletrônicos em mais aeroportos europeus como parte do acordo.
Desde o Brexit, muitos viajantes britânicos não podiam utilizar os portões automáticos ao chegar aos aeroportos da UE. A nova medida pretende acabar com “as temidas filas no controle de fronteira”, disseram autoridades.
*com informações da Associated Press