Putin celebra 2 anos de anexação de território ucraniano
Em Brasília, embaixador russo usa os mesmos argumentos do presidente, mas se recusa a falar sobre os espiões russos no Brasil
Sérgio Utsch
O presidente russo Vladimir Putin afirmou que "todos os objetivos serão atingidos" na Ucrânia, em discurso para celebrar os 2 anos da anexação de quatro regiões do país vizinho – considerada ilegal pela maior parte da comunidade internacional.
Era 30 de setembro de 2022 quando a Rússia oficializou a anexação de Luhansk e Donetsk, no leste, e Zaporíjia e Kherson, no sul da Ucrânia. Juntos, esses quatro estados representam cerca de 15% do território ucraniano.
Até hoje, no entanto, os russos não conseguiram domínio completo de nenhum deles. As capitais de Zaporíjia e Kherson, por exemplo, estão sob controle ucraniano.
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Um dos argumentos usados por Moscou pra justificar a invasão é a proteção do povo de origem russa que vive na região.
"Nunca abandonamos nossos irmãos e irmãs. Tentamos uma solução pacífica. Vocês sabem como essas negociações terminaram: com mentiras, falsidade e engano por parte dos aliados ocidentais, que transformaram a Ucrânia em sua colônia, em uma ameaça militar contra a Rússia", afirmou Putin.
Além disso, o governo russo alega querer "desnazificar" o país vizinho. Nenhum dos argumentos recebeu respaldo internacional nem tampouco convenceu um número significativo de países, inclusive alguns politicamente mais próximos da Rússia.
Meses depois da anexação, 143 países, incluindo o Brasil, votaram a favor de uma resolução na ONU que condenava a invasão da Ucrânia e considerava "ilegais" os referendos realizados pela Rússia nessas regiões. Apenas 4 votaram com a Rússia: Nicarágua, Síria, Belarus e Coreia do Norte, todos governados por ditadores. Outros 35 países se abstiveram.
A invasão da Ucrânia foi um dos assuntos discutidos com o embaixador da Rússia no Brasil, Aleksey Labetsky, que concedeu entrevista exclusiva ao SBT News.
Durante a conversa, o diplomata, que se formou ainda durante a ex-União Soviética, fala sobre o aumento vertiginoso da venda de óleo diesel russo para o Brasil, a Cúpula dos Brics, que acontece em algumas semanas, em Khazan, na Rússia, e também sobre a situação na Ucrânia.
Lebetsky reproduz os argumentos do seu presidente e, para justificar a invasão, sugere que não há diferença entre ucranianos e russos.
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Espiões russos no Brasil
Não houve argumentos, porém, pra falar sobre os espiões russos flagrados no Brasil. Houve pelo menos três casos recentes. Um deles, Sergey Vladimirovich Cherkasov, que se passava pelo brasileiro Victor Muller Ferreira, está preso desde o ano passado.
A prisão de Sergey aconteceu depois que ele foi descoberto na Holanda e foi enviado de volta ao Brasil. Com a identidade brasileira, ele tentava um trabalho no Tribunal Penal Internacional, o mesmo que expediu um mandado de prisão contra Vladimir Putin, por envolvimento na deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia.
Há evidências de que um dos mecanismos usados pela Rússia é fazer com que alguns de seus espiões incorporem uma identidade brasileira que, em tese, levanta menos suspeita em lugares de onde o Kremlin quer tirar informações.
"Eu não quero partilhar as informações que tenho. Temos muitas informações sobre os russo detentos em outros países. Pronto", afirmou o embaixador.
A entrevista completa do diplomata russo ao SBT News está no vídeo a seguir: