Orangotango selvagem é visto usando planta para curar ferida; veja vídeo
Esse é o primeiro registro do tipo e pode fornecer uma nova compreensão sobre a existência de automedicação em nossos parentes mais próximos
Um orangotango de Sumatra, na Indonésia, se automedicou usando uma pasta feita de plantas para curar uma grande ferida na bochecha. Essa é a primeira vez que uma criatura na natureza é vista tratando um ferimento com uma planta medicinal.
A ação foi documentada por pesquisadores do programa SUAQ Orangotango, no Parque Nacional Gunung Leuser, na Indonésia, e publicado pela revista científica Scientific Reports nesta quinta-feira (2).
Segundo o artigo, Rakus, um orangotango macho de Sumatra, foi visto com um grande ferimento no lado direito da face em 22 junho de 2022. Os pesquisadores não sabem como ele conseguiu o machucado, mas acreditam que foi em uma briga com outros machos. A espécie é conhecida por ser territorial.
No dia 25 de junho às 11h16, Rakus começou a se alimentar do caule e das folhas do cipó de Fibraurea tinctoria, planta também conhecida como 'Akar Kuning', bastante usada na medicina tradicional para tratar doenças como disenteria, diabetes e malária.
Segundo os pesquisadores, menos de 10 dias depois, em 30 de junho, a ferida facial já estava fechada e completamente cicatrizada em 19 de julho.
“O comportamento de Rakus parecia ser deliberado, já que ele apenas tratou seu ferimento facial na maçã do rosto direito com a seiva e não qualquer outra parte de seu corpo. O comportamento foi repetido diversas vezes, aplicando não só a seiva da planta, mas posteriormente também o material vegetal mastigado, até que a ferida ficasse totalmente coberta, e todo o processo demorava um tempo considerável”, afirmou a autora principal do estudo, Isabelle Laumer, pesquisadora pós-doutoranda no Instituto Max Planck de Comportamento Animal.
“É possível que o tratamento de feridas com Fibraurea tinctoria, raramente consumido pelos orangotangos em Suaq, represente uma invenção individual”, diz Caroline Schuppli, última autora do estudo. “Animais individuais podem tocar acidentalmente em suas feridas enquanto se alimentam desta planta, aplicando inadvertidamente a seiva da planta em suas feridas. Como a Fibraurea tinctoria tem forte efeito analgésico, os animais podem sentir alívio imediato da dor, levando-os a repetir o comportamento diversas vezes.”
As cientistas dizem que o registro pode fornecer novos insights sobre a existência de automedicação em nossos parentes mais próximos e nas origens evolutivas da medicação para feridas de forma mais ampla.
"Como as formas de tratamento ativo de feridas não são apenas um universal humano, mas também podem ser encontradas em grandes símios africanos e asiáticos, é possível que exista um mecanismo subjacente comum para o reconhecimento e aplicação de substâncias com propriedades médicas ou funcionais em feridas e que nosso último ancestral comum já apresentava formas semelhantes de comportamento unguento.", afirma o relatório.