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"O problema do mundo não é falta de dinheiro" diz Lula a Bill Gates ao receber prêmio em NY

"Os mais ricos estão fazendo foguetes, tentando buscar espaço para morar. Vai ter que aprender a cuidar da Terra", disse o presidente

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Lula recebendo o prêmio Goalkeeper Global Award | Caio Guatelli/ SBT
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Nova York - Foi o último compromisso de uma segunda-feira lotada. No palco do Jazz at Lincoln Center, próximo ao Central Park, o fundador da Microsoft Bill Gates e da Fundação que leva seu sobrenome. "O legado dele como líder é inspirador", disse o magnata americano ao anunciar o presidente brasileiro, um dos agraciados com o prêmio Goalkeeper Global Award, uma reverência às pessoas que fizeram a diferença no mundo. O reconhecimento a Lula é por suas iniciativas globais para o combate à fome. Gates lembrou que o Brasil, à frente do G20 este ano, traçou metas para 2030 nesse sentido.

"A obsessão que eu tenho de combater a fome no mundo é porque eu nasci no nordeste com 7 anos de idade. Minha mãe tinha que ir para São Paulo com 8 filhos menores. Eu não tenho vergonha de dizer que comi pão pela primeira vez com 7 anos em São Paulo. É inadmissível que no mundo moderno, com homens visitando planetas, tenhamos crianças que vão dormir sem ter o que comer", disse Lula, afirmando que a fome não é um problema da natureza, mas sim irresponsabilidade dos governantes do mundo que não querem enxergar a realidade.

Aplaudido em vários momentos, o presidente brasileiro disse que acha louvável um empresário como Bill Gates criar uma fundação, mas acredita que o que acabara com a miséria no mundo não é a doação mas políticas públicas.

Lula ainda falou abertamente sobre a ineficiência atual da ONU, protagonista desta semana em Nova York pela Assembleia Geral que começa nesta terça-feira, 23. "A ONU quando foi criada tinha 41 países agora tem 193. Ou seja, mais de 140 não participaram da criança das Nações Unidas. A ONU que criou Israel agora não ter forca para criar o Estado Palestino", disse Lula. O líder brasileiro mais uma vez defendeu a reforma do Conselho de Segurança, engessado pelo poder do veto dos únicos cinco países que são fixos. "Ninguém mais respeita uma decisão da ONU. Então os pobres não têm mais representação e a ONU poderia ser esta referência.”

Sem citar Elon Musk, falou ainda sobre a concentração de renda dos super trilionários que brigam pela corrida espacial em contradição com as demandas terrenas. "Os mais ricos do mundo estão fazendo foguetes, tentando buscar espaço para morar e não tem. Vai ter que aprender a cuidar da Terra. Vai ter que aprender a cuidar do nosso planeta".

Com olhar de respeito, Bill Gates respondeu com foco no papel do empresário. Lula foi enfático: "Quero dizer que o problema do mundo não é falta de dinheiro. Existem trilhões e trilhões de dólares navegando pelo oceano Atlântico, navegando pelo espaço aéreo. Gente vivendo cada vez mais rico sem produzir um copo, sem produzir uma garrafa de água, vivendo de especulação".

Aos olhos do mundo e no país que fatura trilhões com a fabricação e venda de armas, Lula provocou dizendo que, se o valor em armas fosse aplicado para o combate à fome e agricultura familiar, a fome acabaria no mundo. "Eu não sou contra ninguém ser rico. Eu sou contra as pessoas serem pobres porque não gosto que as pessoas sejam pobres, gosto que elas evoluam na vida, pra pessoa ter um padrão de vida decente. Agora não é possível que uma pessoa sozinha tenha mais dinheiro que o Reino Unido. Não é possível que uma pessoa sozinha tenha mais dinheiro que o Brasil que tem 210 milhões de habitantes. Então é preciso que haja um conserto mundial para a gente rever o comportamento de todos nós.”

Ao fim, Lula contou que viu uma fila de pessoas em Nova York à espera de sopa. "Ai, Bill Gates, eu fiquei indignado. Sinceramente eu fico indignado. Como pode o estado mais rico do mundo, num estado de mais competência tecnológica do mundo, como pode ser possível a gente saber que tem pessoa pobre que é obrigada a pegar uma fila pra pegar uma sopa pra comer. Cadê o papel do Estado? O Estado tem que garantir às pessoas condições de sobreviver.”

E finalizou: "Eu não sou um homem radical. Eu fui sindicalista minha vida inteira, lutei por um trabalhador receber melhor E minha tese não era marxista. Minha tese era capitalista.”

Lula disse que, aos 78 anos de idade, vive o melhor momento vida, que se sente um ser humano pleno e que a fome no mundo não é falta de dinheiro mas falta da vergonha dos que governam o mundo.

Nesta terça-feira (23), o Brasil abre a série de discursos nas Nações Unidas durante a Assembleia Geral.

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