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Ladies Lounge: a história do museu exclusivo para mulheres que exibiu quadro falso de Picasso no banheiro

O local, na Austrália, repercutiu mundialmente e enganou "especialistas em artes", em um grito de liberdade feminina

Imagem da noticia Ladies Lounge: a história do museu exclusivo para mulheres que exibiu quadro falso de Picasso no banheiro
Kirsha Kaechele, curadora do Ladies Lounge, espaço de obras de arte exclusivo para mulheres e que confessou ter copiado um Picasso | Reprodução/Instagram
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Ladies Lounge, um pequeno espaço de artes que era exclusivo para mulheres, localizado no interior de um museu na Austrália, ganhou repercussão internacional, com publicações em mais de 160 idiomas, por três motivos:

  • A curadora da exposição, Kirsha Kaechele anunciava a exibição de pinturas valiosas, como obras de arte do espanhol Pablo Picasso, outras peças luxuosas e raras no espaço Ladies Lounge.
  • Um homem entrou com uma ação judicial, reivindicando que ele, e outros do mesmo gênero, não podiam ser excluídos e barrados do local. A Justiça foi a favor dele, e o Ladies deixou de ser único para elas. No entanto, Kirsha passou a exibir as obras de Picasso no banheiro feminino, encontrando uma abertura para manter a autenticidade do local.
  • O caso ganhou o mundo e, após quase 4 anos de exposição das peças valiosas, incluindo a exibição de uma obra do espanhol de ponta-cabeça, um repórter e a administração das obras de Picasso, na França, questionaram a veracidade das peças exibidas. Na quarta-feira (10), Kirsha confessou que ela mesma havia pintado alguns quadros, dividindo espaços da sala de arte com as obras originais.

Entenda a história

Kirsha Kaechele, curadora do Ladies Lounge e que confessou ter copiado um Picasso | Reprodução/Instagram
Kirsha Kaechele, curadora do Ladies Lounge e que confessou ter copiado um Picasso | Reprodução/Instagram

Ladies Lounge

Em um texto publicado no site do Museu de Antiga e Nova da Tasmânia (Mona), Kirsha contou que o espaço foi criado com o propósito de ser um local bonito feito exclusivamente para as mulheres se divertirem "longe das dominação esmagadora dos homens", em resposta ao patriarcado e o machismo.

"Eu sabia que ele (Ladies Lounge) tinha que ser o mais opulento possível. Isso significava belos mordomos homens para nos servir, servir champanhe e admirar nossa beleza [...] O Lounge precisaria exibir as obras de arte mais importantes do mundo - as melhores", explica.

Da escolha pelo Picasso, as obras falsas e reais

Obras expostas no Ladies Lounge, na Austrália | Reprodução/Mona
Obras expostas no Ladies Lounge, na Austrália | Reprodução/Mona

Ela tem a teoria que a "arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade, pelo menos a verdade que nos é dada para entender". Diante dessa lógica, exibia peças reais misturadas com as falsas e com grandes histórias por trás delas.

Dessa forma, Kirsha mostrava peças de joalherias preciosas, mas algumas eram de plástico pertencentes à própria bisavó, um tapete feito por um artista para a Princesa Mary, porém, produzido com poliéster de baixa qualidade, entre outras.

Com cada uma dessas histórias, ela levantava questões sobre gênero, liberdade, estruturas de poder e valor, principalmente para aqueles que foram e continuam sendo excluídos da história. A escolha pelo Picasso também foi uma ação ativista.

"Eu sabia que elas (pinturas) tinham que ser Picassos. Ele é o grande mestre, o auge da arte moderna. E sim, seu histórico com as mulheres é intenso. Eu gostava que um misógino dominasse as paredes do Ladies ao lado de uma obra de Sidney Nolan, outro misógino, que retrata uma cena de estupro, Leda e Swan", conta Kirsha sobre a provocação.

Dos "especialistas" as obras no banheiro

Quando a exposição começou em 2020, a obra que ela pintou de Picasso (primeira imagem da reportagem) foi colocada acidentalmente de cabeça para baixo. Em um primeiro momento, a curadora considerou um grande e erro e iria ajustar, mas ela deixou propositalmente para provocar os especialistas em artes, esperando que algum a corrigisse publicamente. No entanto, por quase 4 anos, isso nunca aconteceu.

Mais tarde, um homem questionou o fato de ter sido impedido de entrar no local com base em "discriminação de gênero". A Justiça foi a favor dele e a artista teve a seguinte reação:

"Perdi o processo judicial e movi os 'Picasso' para os banheiros. Isso permitiu uma visualização ininterrupta por mulheres enquanto o Ladies Lounge passava por sua 'reforma' determinada pelo tribunal", conta.

Veja o local:

Revelando a verdade

Com toda a repercussão da história, um repórter e a própria cuidadora do acervo deixado por Picasso, a Administração Picasso, na França, questionaram a autenticidade das obras e ela se viu no momento de revelar a verdade.

"Essa saga louca e mágica me mudou. Estou impressionada com o poder transformador da arte. Ela aprofundou minha conexão com as mulheres e fez de mim uma feminista. Meu amor pelas mulheres queima mais forte. Comecei como uma artista conceitual e acabei como uma ativista. E isso me fez refletir mais profundamente sobre o desequilíbrio de gênero", conclui.

*Com informações da Associated Press

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