Irã x Israel: nota do Itamaraty não é compatível com aspiração de liderança global de Lula, diz analista
Especialista em relações internacionais Uriã Fancelli aponta que presidente poderia ter se posicionado de forma discreta, mas objetiva nas redes sociais
A nota oficial do governo do Brasil, via Itamaraty, sobre o ataque do Irã a Israel "não é compatível com aspiração de liderança global que Lula tem", diz analista político Uriã Fancelli. O especialista em relações internacionais participou do Brasil Agora desta segunda-feira (15) e comentou o posicionamento brasileiro sobre o acirramento de tensões no Oriente Médio.
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No último sábado (13), após o Irã enviar mísseis e drones em direção a Israel, o governo brasileiro disse acompanhar "com grave preocupação" o ataque, pediu "contenção" de hostilidades e fez apelo para que a comunidade internacional mobilize "esforços no sentido de evitar uma escalada".
"É, realmente, uma nota tímida. Não é compatível com a aspiração de liderança global que Lula tem, muito menos de alguém que se propõe a fazer diplomacia presidencial", analisou em conversa com os apresentadores Murilo Fagundes e Iasmin Costa.
Fancelli também apontou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem escolhido temas internacionais para comentar e "terceirizado" outros posicionamentos por meio do Itamaraty.
"Ou se envolve em tudo, e ele vai ter consistência nos momentos de se posicionar, ou se afasta e deixa a diplomacia para o Itamaraty", disse o especialista.
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O analista disse que Lula poderia ter se posicionado de forma discreta, mas objetiva sobre o ataque do Irã por meio de uma publicação em rede social.
Segundo Fancelli, isso poderia ajudar a melhorar o diálogo entre Brasil e Israel, que anda estremecido desde que o presidente comparou a resposta israelense na Faixa de Gaza às ações nazistas de Adolf Hitler contra judeus na Segunda Guerra Mundial.
"Seria simples ele fazer uma pequena postagem condenando o Irã sem mencionar o Irã, mas mostrando também boa vontade em normalizar as relações com Israel sem ter que se humilhar a [Benjamin] Netanyahu [primeiro-ministro de Israel]. Seria forma simples de se blindar a críticas internas de ser, muitas vezes, conivente com ditaduras", disse.