Em artigo de opinião póstumo, Papa Francisco pede fim da violência em Gaza
Pontífice reiterou apoio a uma solução de dois Estados para o conflito em Israel e na Palestina

Camila Stucaluc
Em uma de suas últimas declarações, o Papa Francisco voltou a pedir o “fim do ciclo de violência e retaliação” no Oriente Médio, sobretudo na Faixa de Gaza. A fala está presente no artigo de opinião publicado postumamente na revista The Parliament, na terça-feira (22).
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Intitulado “O derramamento de sangue na Palestina/Israel deve acabar”, o artigo cita o “paradoxo da Terra Santa”, onde, apesar de ter sido o local escolhido por Deus para revelar sua glória divina e o valor da dignidade humana, é palco de guerras atrozes, resultando em rios de sangue. “É uma terra devastada por séculos de conflito, marcada pela desconfiança e pelo medo.”
Entre os conflitos na região, Francisco destaca a guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas, na Faixa de Gaza, que ocorre desde outubro de 2023. No texto, o pontífice pede o fim das hostilidades e a abertura do diálogo para a solução de dois Estados – que prevê um Estado de Israel e um Estado da Palestina vivendo lado a lado em paz, segurança e reconhecimento mútuo.
“Ambos os povos têm o direito de viver em paz, pois ambos têm profundas raízes históricas, culturais e religiosas naquela terra. A segurança nunca pode ser alcançada através da dominação, aniquilação, humilhação ou exclusão do outro. Uma abordagem militar ou decisões unilaterais podem trazer vitórias aparentes e momentâneas, mas não trazem paz”, escreveu o papa.
“Infelizmente, com demasiada frequência na história humana, aqueles que propõem a paz são vistos como fracos, enquanto aqueles que se armam até aos dentes são apresentados com o fascínio de serem fortes e responsáveis. Isso também é uma grande ilusão. Aquele que trabalha pela paz é forte. Somente o pacificador vê o mundo como um lugar que pode ser cultivado e melhorado”, continuou.
Para reforçar a ideia de paz, Francisco citou uma fala de Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus". Ele terminou o texto dizendo que “Deus e as gerações futuras nos julgarão não por quantos inimigos derrotamos, mas por quantas vidas salvamos.”
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A guerra em Gaza foi citada inúmeras vezes por Francisco durante seus discursos nos últimos anos. Um dos últimos ocorreu no domingo de Páscoa (20), quando o pontífice apelou por paz no enclave palestino. A declaração foi feita um dia antes de sua morte, na madrugada de segunda-feira (21), provocada por um acidente vascular cerebral (AVC) seguido de um quadro de insuficiência cardíaca.