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Por que o legado de Francisco para os católicos é tão raro

Ao Poder Expresso, do SBT News, André Chevitarese, especialista em religião, destaca as mudanças implementadas pelo primeiro pontífice latino-americano

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O historiador André Chevitarese, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou nesta terça-feira (22) ao programa Poder Expresso, do SBT News, que "é preciso entender o quão raro é um papa como Francisco", que deixou um legado de mudanças na Igreja Católica, com um olhar voltado aos marginalizados.

O pontífice morreu na segunda-feira (21), aos 88 anos, vítima de AVC e insuficiência respiratória. Ele enfrentava problemas graves de saúde e chegou a ficar 38 dias internado entre fevereiro e março de 2025 por causa de uma pneumonia.

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“Quando a gente pensa na longa duração da história do cristianismo, tendo como ponto de partida o próprio Jesus de Nazaré, sua ênfase era de que o Reino de Deus era para os miseráveis e excluídos. Partindo dessa lógica, só iremos encontrar uma figura assim, bastante emblemática nesse sentido, lá no Século 13, com o São Francisco de Assis, um homem riquíssimo que decide se despir do dinheiro para ir ao encontro dos mais pobres", explica o especialista. "Depois saltamos para o Século 20, quando começa a surgir a Teologia da Libertação, que foi gestada justamente para dar destaque aos marginalizados. E essa é a origem formativa do Papa Francisco. Ele levou ao pontificado algumas questões que foram colocadas em curso no final dos anos 50, início do anos 60, com o Concílio Vaticano II. A gente enxerga isso no Papa Francisco diante de seu olhar para a vida, seu gesto de humildade e seu olhar para o pobre, excluído, imigrante".

A Teologia da Libertação, mencionada pelo professor, é um movimento cristão que surgiu na América Latina, focado na defesa dos direitos dos oprimidos e na busca por uma sociedade mais justa, usando uma análise crítica sobre a sociedade para interpretar os ensinamentos da Bíblia. O Concílio Vaticano II foi um encontro que reuniu bispos de todo o mundo, entre outubro de 1962 e dezembro de 1965, para discutir a modernização da Igreja Católica, de modo a acompanhar a evolução social. O evento, convocado pelo papa João XXIII e encerrado pelo pontífice Paulo VI, e foi um marco de grande inovação para o catolicismo.

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Além de um papado voltado para os mais pobres, André Chevitarese destaca outras duas marcas importantes do Papa Francisco: o avanço em relação ao espaço da mulher em cargos de poder na igreja – a exemplo da nomeação da irmã italiana Rafaella Petrini como primeira presidente feminina de Governança do Vaticano – e o acolhimento aos fiéis da comunidade LGBT+.

“A questão das mulheres no papado de Francisco teve um avanço, que, apesar de pequeno, tem um simbolismo extremamente interessante. Se a mulher católica não pode ainda estar no púlpito celebrando uma missa, hoje ela já pode ocupar cargos significativos na estrutura da Igreja Católica, que tende a ser dominada, pelas hierarquias, por homens", destaca Chiavitarese. "Outro elemento simbólico é um gesto de acolhida para os casais homoafetivos. Se ainda há fortes restrições das igrejas cristãs em relação à comunidade LGBT+, seja dos solteiros ou dos casados, o papa foi ao encontro deles, também para dizer que precisam de acolhimento e reconhecer que existe uma família que não está pautada somente no homem, na mulher e no filho", analisa o historiador.

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