Diretora do Banco Central dos EUA se recusa a deixar cargo após demissão anunciada por Trump
Lisa Cook desafia Trump, afirma que não deixará o Fed e diz que demissão é uma "tentativa de ação ilegal"

Caroline Vale
A diretora do Federal Reserve (Fed), Lisa Cook, afirmou que não deixará o cargo no Conselho de Governadores, mesmo após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar sua demissão na segunda-feira (25).
Na carta publicada nas redes sociais, Trump declarou que a medida teria efeito imediato, alegando suspeitas de fraude em registros de hipoteca, embora Cook não tenha sido acusada formalmente de nenhuma irregularidade.
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Em comunicado divulgado por meio de seu advogado, David Lowell, a diretora afirmou que "não há motivo legal" para a decisão e classificou a ação como uma tentativa de interferir na independência do banco central.
"O presidente Trump alegou ter me demitido 'por justa causa' quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo. Não vou renunciar. Continuarei a cumprir minhas obrigações para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022. Tomaremos todas as medidas necessárias para impedir sua tentativa de ação ilegal", declarou.
Cook foi confirmada pelo Senado em 2022 e reconduzida em 2023 para um mandato que vai até 2038.
A Casa Branca sustenta que a remoção está amparada no estatuto do Fed, que permite a demissão de membros do conselho por justa causa. No entanto, especialistas afirmam que a justificativa apresentada é juridicamente frágil e pode ser contestada nos tribunais.
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Pressão sobre o Fed
A medida anunciada ocorre em meio a uma sequência de ataques de Trump contra o Fed e seus integrantes. Nos últimos meses, Trump repreendeu repetidamente o presidente da instituição, Jerome Powell, por não reduzir as taxas de juros, chamando-o de "burro" e "teimoso".
O foco do presidente mudou na semana passada, voltando-se para Cook, cuja saída permitiria a Trump selecionar sua quarta escolha para o conselho de 7 membros do Fed, incluindo o governador Christopher Waller e o vice-presidente de supervisão nomeados em seu primeiro mandato, e a nomeação pendente do chefe do Conselho de Assessores Econômicos, Stephen Miran, para uma vaga atualmente aberta.
Nos últimos anos, as questões financeiras têm sido um assunto regular para as autoridades do banco central dos EUA. Em 2021, os então presidentes do Fed de Dallas e Boston renunciaram após revelações de negociações ativas nos mercados financeiros.
Embora ambos tenham sido posteriormente inocentados de irregularidades pelo órgão de fiscalização interno do Fed, o inspetor-geral do banco central afirmou que suas negociações criaram a aparência de um conflito de interesses. Em resposta à controvérsia, o Fed reforçou suas regras de ética que regem os investimentos pessoais dos funcionários.