Argentina compra carga da Petrobras para lidar com escassez de gás
Temperaturas mais baixas do que o habitual já haviam aumentado a demanda, sobrecarregando o sistema no país
Vithor Laureano
A Energía Argentina Sociedad Anónima (Enarsa) informou nesta quarta-feira (29) que comprou emergencialmente uma carga de gás natural liquefeito (GNL) da Petrobras para enfrentar a crise de abastecimento na Argentina, que afeta mais de 300 indústrias e postos de combustíveis desde o fim da semana passada.
A estatal argentina informou que um "contratempo comercial" com a petroleira brasileira atrasou a entrada do produto, mas disse que a situação já foi resolvida. O governo de Javier Milei espera normalizar o abastecimento nacional de gás veicular a partir desta noite.
De acordo com a Enarsa, o navio com a carga de GNL atracou na tarde de terça-feira (28) no terminal de Escobar, mas houve um problema com o pagamento. A Petrobras contestou a carta de crédito e não liberou de imediato o produto.
A empresa argentina confirmou que, na manhã desta quarta, recebeu a confirmação da carta de crédito emitida pelo Banco de la Nación Argentina (BNA), iniciando imediatamente o descarregamento.
A Petrobras esclareceu que a operação ocorreu conforme acordado em contrato e que "ambas as empresas atuaram para viabilizar o início de fornecimento, que já está acontecendo, no menor prazo possível".
Normalização do abastecimento de gás
O governo argentino informou que o abastecimento de gás no país está sendo normalizado, após resolver a redução do transporte em duas plantas compressoras, em San Luis e Córdoba, e o "contratempo administrativo" com o navio da Petrobras.
A gestão argentina informou ter tomado medidas para garantir o abastecimento da demanda prioritária, como comércios, escolas, hospitais e residências. As condições meteorológicas excepcionais em maio aumentaram o consumo da demanda prioritária de 44 milhões de m³ para 77 milhões de m³.
Estima-se a normalização do abastecimento da demanda não prioritária (indústrias, estações de GNC e centrais termoelétricas) ao longo do dia. Para garantir o abastecimento da demanda prioritária (comércios, escolas, hospitais e residências), o Comitê Executivo de Emergência esteve reunido até a meia-noite de terça para programar interrupções no fornecimento de demandas não prioritárias.
Situação do abastecimento de gás na Argentina
A situação na Argentina se complicou com o atraso na licitação das obras de reversão do Gasoduto Norte, que levará gás de Vaca Muerta à região Norte da Argentina e garantirá a autossuficiência da Bolívia.
Nesta semana, a Ente Nacional Regulador del Gas (Enargas), reguladora de gás argentino, autorizou a Enarsa a realizar as obras de reversão, previstas para serem concluídas no meio do inverno.
Em meio ao atraso nas obras, uma onda de frio em maio aumentou a demanda de gás pelas residências, agravando a crise de abastecimento.
Assinatura de memorando entre Energia Argentina e Petrobras
No dia 18 de maio, no Rio de Janeiro, a Energia Argentina e a Petrobras assinaram um Memorando de Entendimento (MOU) por um prazo de três anos, com diferentes objetivos.
O MOU permitirá à Enarsa solucionar o abastecimento de gás do Noroeste Argentino (NOA) enquanto finaliza as obras de reversão do Gasoduto Norte. Também possibilitará o intercâmbio de informações e a identificação de alternativas de cooperação energética entre as duas empresas.
O presidente da Energia Argentina, Juan Carlos Doncel Jones, ressaltou a importância do cordo na conjuntura atual do abastecimento de gás na região NOA, durante a transição para o fornecimento a partir dos campos de Vaca Muerta. O representante da Petrobras destacou o valor estratégico da integração regional.