3 pontos que explicam a tensão na eleição venezuelana neste domingo
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, mais de 20 milhões de pessoas estão aptas a votar
A eleição na Venezuela acontece neste domingo (28) em um clima de intensa tensão política. Os principais candidatos são Nicolás Maduro, que governa o país desde 2013, e Edmundo González, o principal nome da oposição.
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Os locais de votação estarão abertos das 6h às 18h, no horário local (7h às 19h em Brasília). Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), mais de 20 milhões de pessoas estão aptas a votar. Diferente do Brasil, a Venezuela não realiza segundo turno nas eleições presidenciais.
Nicolás Maduro busca seu terceiro mandato. Ele assumiu interinamente o cargo em 2012, após a morte de Hugo Chávez, e vem mantendo o chavismo no poder desde então.
As pesquisas indicam que Maduro tem chances reais de ser derrotado. Seu opositor, Edmundo González Urrutia foi escolhido como candidato de consenso da coalizão de oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD). O principal nome da oposição, María Corina Machado, foi impedido de concorrer.
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Veja abaixo 3 pontos-chave que explicam a forte tensão política no país.
Quebra do acordo de Barbados
Em 2018, Maduro venceu as eleições, mas o resultado foi considerado fraudulento pela oposição e por países como os Estados Unidos e o Brasil. Isso resultou em sanções financeiras dos EUA – que sufocaram a economia interna – e isolamento diplomático.
Em outubro de 2023, foi proposto um acordo, conhecido como acordo de Barbados, que visava garantir a democracia na Venezuela, com acompanhamento internacional das eleições, atualização dos registros eleitorais e liberdade de imprensa.
No entanto, Maduro não cumpriu o acordo. No início de 2024, o Supremo Tribunal de Justiça, controlado por Maduro, impediu a candidatura de María Corina Machado por 15 anos, prejudicando as chances oposicionistas.
Além disso, o governo censurou o jornal El Nacional e diversos outros veículos de informação. A gestão chavista também expulsou funcionários da ONU, após preocupações com a ativista Rocío San Miguel. Ela foi detida por uma suposta conspiração para assassinar o presidente Nicolás Maduro. A acusação foi amplamente questionada.
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Violência do regime
Na quarta-feira (17), Maduro ameaçou com um "banho de sangue" e uma "guerra civil" caso não vença a eleição. A declaração foi feita em um ato público em Caracas.
"O destino da Venezuela no século 21 depende de nossa vitória em 28 de julho. Se não quiserem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida, produto dos fascistas, garantamos o maior êxito, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo", disse.
O presidente brasileiro Lula expressou preocupação com a fala e desejou que as eleições transcorram pacificamente.
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Além disso, María Corina Machado denunciou um atentado contra sua comitiva, com vandalismo e sabotagem a seus veículos, e a prisão de seu chefe de segurança, Milciades Ávila, acusado de violência de gênero.
O chefe de segurança foi preso às vésperas da eleição. Milciades Ávila, um ex-policial a serviço de Machado há 10 anos, "foi sequestrado pelo regime sob acusação de violência de gênero", escreveu a opositora no X (antigo Twitter).
Repressão civil
No primeiro trimestre de 2024, a Venezuela registrou 1.243 protestos, conforme o Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais (OVCS).
Desses, 26% foram para exigir direitos civis e políticos, incluindo a abertura de novos pontos de recenseamento e celeridade nos processos eleitorais.
Também houve mobilizações contra abusos de poder e violações de direitos humanos pelas forças de segurança. Entre 4 e 19 de julho, a ONG Laboratório da Paz registrou 76 detenções arbitrárias.
As repressões mais notáveis ocorreram durante os protestos de 2014 e 2017, que foram violentamente reprimidos, resultando em centenas de mortos e milhares de feridos.
Além disso, a crise humanitária e a escassez de alimentos e medicamentos contribuíram para uma situação de extrema instabilidade e sofrimento para a população venezuelana.