1% mais rico polui igual a dois terços da população mundial, diz estudo
Emissão de poluentes da faixa mais rica pode matar mais de cinco milhões de pessoas por calor excessivo até 2100
Wagner Lauria Jr.
O 1% mais rico da população mundial emite a mesma quantidade de gases do efeito estufa que os dois terços mais pobres. É o que aponta um relatório da Oxfam, divulgado neste domingo (19.nov).
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De acordo com o estudo, realizado em parceria com o Instituto Ambiental de Estocolmo (Stockholm Environment Institute - SEI), isso significa que 77 milhões mais ricos são responsáveis por emitir a mesma quantidade de poluentes dos 5,11 bilhões mais pobres. Cada um dos mais ricos, tem, em média, um índice de emissão de gases do efeito estufa 19 vezes superior aos mais pobres. Os resultados foram obtidos em 2019.
Emissão dos mais ricos, em 5 anos, pode causar mais de 5 milhões de mortes
A emissão de poluentes da faixa mais rica, de 2015 até 2019, pode ser responsável pela morte de cerca de cinco milhões de pessoas até 2100, por causa da contribuição às mudanças climáticas e ao excesso de calor. Apenas a quantidade registrada em 2019 é suficiente para causar 1,3 milhão de óbitos até lá.
Jatinhos, um dos maiores emissores de CO2
Um dos maiores emissores de gases de efeito estufa são os jatos particulares. Segundo o Greenpeace, jatos privados europeus emitiram um total de 5,3 milhões de toneladas de CO2 entre 2020 e 2023. Nesse período, o número de voos desse tipo de aeronave quintuplicou.
Um bilionário pode emitir um milhão de vezes mais poluentes do que 80% da população mais pobre
Uma análise da Oxfam com 125 bilionários aponta que, em média, eles emitiram 3 milhões de toneladas de CO2 por ano por meio de seus investimentos. O número é um milhão de vezes a mais do que a média de alguém que se encontra nos 90% mais pobres da humanidade.
Em 2030, as emissões do 1% mais rico poderá ser 22 vezes superior ao limite seguro (as emissões permitidas para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C).
Conflito de interesses dos governantes
Senadores dos EUA, representantes da União Europeia e deputados australianos estão na faixa da população 1% mais rica, participam de votações para a redução dos gases poluentes e, ao mesmo tempo, têm investimentos em combustíveis fósseis. A estimativa trazida pelo estudo é que membros do Congresso dos EUA detêm US$ 93 milhões em ações de indústrias de combustíveis fósseis.
Como resolver o problema?
Uma das soluções apresentadas no estudo é um imposto de 60% sobre os rendimentos globais do 1% mais rico para financiar energias renováveis e uma transição de saída dos combustíveis fósseis. O novo tributo arrecadaria cerca de US$ 6,4 trilhões.
"É inaceitável que o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário. E quem vem sofrendo o impacto dos danos dessa viagem é a maioria da população. São as bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza", afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil
O estudo utilizou os dados nacionais de emissões de consumo para 196 países de 1990 a 2019, do Global Carbon Atlas (Atlas Global de Carbono), que cobre quase 99% das emissões globais. Os dados de renda nacional e os números populacionais foram obtidos do Penn World Table (PWT) e do Banco Mundial.