Após julho mais quente: eventos climáticos extremos serão mais intensos
Efeitos esperados das mudanças climáticas estão chegando mais rapidamente
Fernando Jordão
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que este mês de julho caminha para ser o mais quente da história. O secretário-geral da instituição, Antonio Gutérres, disse que os efeitos já projetados das mudanças climáticas estão chegando mais rápido do que se projetava e que, inclusive, o mundo já havia passado da era do aquecimento global e entrado na era da "ebulição global".
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Em participação no programa Poder Expresso, do SBT News, o professor Ricardo de Camargo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), apontou o que se pode esperar dos próximos anos e avaliou se ainda é possível frear essas mudanças.
Inicialmente, Camargo explicou a razão de este julho ter sido especialmente mais quente: "Mês de julho é tipicamente o mês mais quente por conta da proporção continente/oceano do hemisfério Norte. O hemisfério Norte tem muito mais continente do que oceano proporcionalmente ao hemisfério Sul e isso faz com que nesses meses de verão no hemisfério Norte haja muita incidência de radiação solar naquelas porções continentais que são caracterizadas por pouca umidade e aí esquenta muito. Além disso, a gente tem associado a isso o Pacífico Equatorial Leste com esse fenômeno do El Niño também muito acima das temperaturas normais e boa parte do Atlântico Norte também tá com temperaturas da superfície anomalamente mais quentes. Quando a gente junta tudo isso não tem como não dar um mês de julho mais quente de todo o registro histórico".
Em seguida, ele projetou que, com as mudanças climáticas, os eventos extremos ficarão "mais intensos, mais frequentes e mais duradouros".
"E, entenda-se por eventos extremos, ondas de calor ou mesmo ondas de frio, períodos de chuva excedente ou períodos de seca muito persistente. Então a gente tem percebido diversos lugares do globo com essas características, com esses eventos acontecendo, seja de temperaturas mais altas, seja de chuva acima, chuva abaixo da média, e isso é uma característica do sistema climático terrestre, acumulando energia, acumulando calor justamente pelo efeito dos gases do efeito estufa que permitem que essa energia seja acumulada no sistema", afirmou.
Questionado sobre se é possível reverter esses efeitos, o especialista disse crer que, no atual ponto, já não seja mais possível: "A gente tem capacidade de minimizar os efeitos, mitigar os impactos". Para isso, ele ressalta, é necessário observar a questão da mudança de matriz energética. "Essa demanda por energia vai ser uma característica que vai determinar -- na verdade já está determinando -- o nosso futuro daqui para frente."
Confira a íntegra da entrevista (a partir de 1h04min49seg):