Áudios vazados e chantagem: entenda o escândalo que estremece a Colômbia
Além da crise de governabilidade, Gustavo Petro passa por tensão política com aliados e oposição
Há menos de um ano no poder, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, enfrenta uma crise política devido a um escândalo que envolve sua ex-chefe de gabinete, Laura Sarabia, a babá do filho dela, o ex-chefe de campanha de Petro, Armando Benedetti, supostos áudios vazados e acusações de financiamento eleitoral ilegal. Tudo isso enquanto o governo tenta aprovar reformas sociais no Congresso.
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A crise que começou no final de maio e estourou no começo de junho já resulta na saída de dois aliados: Sarabia e Benedetti, que agora se acusam mutuamente.
No início de 2023, a casa de Sarabia foi roubada e uma pasta com valor ainda não esclarecido em dinheiro foi levada da residência da então chefe de gabinete. Nesse contexto, Sarabia teria submetido a babá de seu filho, Marelbys Meza, a um polígrafo na tentativa de descobrir o que teria permitido o desaparecimento do dinheiro.
O episódio seria só a ponta do iceberg. Diante das denúncias e do furto de uma mala com dinheiro, o caso ganhou repercussão e muitas perguntas começaram a surgir. Principalmente, sobre quanto dinheiro teria sido perdido, sua origem e a quem mais pertenceria esse capital.
Desdobramentos
O mais intenso alvoroço veio quando a revista Semana publicou supostos áudios de Armando Benedetti, personagem importante na campanha eleitoral de Petro, chantageando Sarabia. Com muitos palavrões, Benedetti estaria pressionando a chefe de gabinete por um maior destaque no governo; ele não estaria satisfeito com a nomeação para embaixador da Colômbia na Venezuela.
Nessas gravações, Benedetti ameaça revelar um suposto financiamento ilegal do então candidato que chegaria a 15 bilhões de pesos (o equivalente a 17 milhões de reais).
Em seu twitter, Benedetti alega que os áudios foram manipulados. Além de esclarecer a situação com a babá Marelbys Meza - já que a funcionária era conhecida da família dele desde antes de trabalhar para Sarabia. A assessora, por sua vez, o acusa de conspiração contra ela e o governo.
Petro nega irregularidades em sua campanha e diz que tudo foi devidamente compartilhado com o Consejo Nacional Eleitoral (CNE), a mais alta instância da justiça eleitoral no país.
Reformas no Congresso
Tomaz Paoliello, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, explica que essa situação só agrava uma crise que já vinha dando sinais. "[A crise] está relacionada à dificuldade de formar uma base funcional e uma coalizão firme que permita maior governabilidade ao presidente", avalia ele.
Paoliello acrescenta que o escândalo vem em boa hora para oposição. "A crise é uma oportunidade para a oposição tirar o foco das reformas propostas pelo presidente e pressioná-lo no debate público a responder sobre questões relacionadas a sua honestidade e princípios".
As principais propostas em tramitação no Congresso colombiano até a crise paralisar o processo eram a trabalhista, a do sistema de saúde e de aposentadoria. O professor e doutor em Relações Internacionais, Arthur Murta, explica que essas são demandas antigas da população colombiana.
O povo colombiano foi à rua protestar contra a paralisação das mudanças. Murta chama a atenção para o fato que seria uma "demonstração de força" de Petro e Francia Márquez, vice-presidente da Colômbia. "Ele [Petro] não colocou as pessoas nas ruas para proteger o governo dele [...] ele coloca pessoas nas ruas para clamar para que as reformas sejam feitas", analisa.
Afinal de contas, o que está acontecendo com a Colômbia?
Petro foi eleito presidente em uma votação acirrada e é o primeiro presidente de esquerda do país. Diante do cenário, desafios na governabilidade já eram esperados. Mas o que será que acontece agora? As acusações são verdadeiras? Ou pelo menos fazem sentido?
As investigações acerca de Sarabia, Benedetti e o financiamento ilegal seguem nos órgãos competentes da Colômbia e, tanto para Paoliello quanto para Murta, é cedo para cravar um desfecho. "A Colômbia tem histórico de violação de direitos políticos e perseguição a opositores. Grampos, escutas ilegais, documentos forjados, além dos inúmeros casos de violência política. Creio que seja necessário aguardar mais informações. Certamente a crise tem sido utilizada pela oposição para enfraquecer e desestabilizar o governo, e sempre há interessados nas crises políticas", elucida Paoliello.
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