Entrevista: EUA fazem investimentos históricos e Brasil é parte deste momento
Ao SBT, oficial americano Dilawar Syed afirmou que o foco no país vai além das regiões mais desenvolvidas
Patrícia Vasconcellos
Washington DC -- Nesta semana o SBT entrevistou, no Departamento de Estado norte-americano, Dilawar Syed, Representante Especial para assuntos comerciais e de negócios dos Estados Unidos. Syed esteve recentemente em São Paulo e disse que gostou da estrutura de Campos de Jordão, na Serra da Mantiqueira, por onde também passou, e que adora a energia brasileira.
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Com perfil empresarial e de empreendedor com mais de duas décadas de experiência, Syed também atuou, antes de ingressar no Departamento de Estado, em uma Comissão da Casa Branca na administração Obama. Economista pela Universidade do Texas, Syed tem MBA pela Wharton School, Universidade da Pensilvânia.
Dilawar Syed comentou sobre os progressos atingidos na relação comercial após a reunião entre Biden e Lula, em fevereiro, na Casa Branca e rebateu um comentário feito pelo ministro Fernando Haddad na China.
Segundo o oficial do governo americano, o volume de negócios entre Estados Unidos e Brasil cresceu 26% em 2022. Segundo Syed, o momento é positivo e de crescimento do investimento americano no país. Ele citou nove startups brasileiras com valor maior de US$ 1 bilhão.
Chamadas de unicórnios, estas empresas são apoiadas pela comunidade de empreendimentos dos Estados Unidos, ele afirma.
SBT News - O senhor acaba de voltar de São Paulo, Brasil. Foi uma boa viagem?
Dilawar Syed -- Uma viagem incrível. Foi minha primeira visita oficial como um representante do Departamento de Estado. Eu estive lá como empresário, em São Paulo, antes. Adoro a energia. Adoro estar no Brasil.
SBT News - O embaixador Brian Nichols apenas voltou também de Brasília. Podemos dizer que é um novo momento para a relação bilateral comercial entre Estados Unidos e Brasil depois da reunião bilateral entre os dois presidentes Lula e Joe Biden? Como o senhor descreve esta relação bilateral comercial?
DS - Sim, estando presentes Biden e o presidente Lula; Quando você olha toda a relação, voltamos em 200 anos. Somos duas das principais economias do Hemisfério Ocidental. Temos relacionamentos quando se trata de pessoas para pessoas, econômicas. Claramente este momento representa uma nova oportunidade.
Nós estamos fazendo investimentos históricos, os Estados Unidos, sob o presidente Biden, nesta política, como não vimos desde o New Deal. Obviamente nos importamos com o relacionamento. Muito disso tem sido um investimento que também será realizado pelo relacionamento com o Brasil.
Então, é definitivamente uma oportunidade para irmos mais fundo quando se trata do trabalho que faço, no Departamento de Estado. É impulsionar mais investimentos comerciais no país.
Por isso estávamos lá, para garantir que as empresas americanas continuem sendo uma força do bem. Impulsionando uma prosperidade compartilhada no Brasil e nos Estados Unidos.
SBT News - Os Estados Unidos são os maiores investidores no estado de São Paulo. O senhor pode dar ideias ou números para demonstrar o quão grande é este investimento naquele estado e sobre outros estados brasileiros também no Sudeste.
DS - Absolutamente. Temos 3,5 bilhões de dólares de investimento estrangeiro direto (FDI). Esses números de 2021, no estado de São Paulo. A cidade em si tem cerca de US$ 1,8 bilhão [de investimento estrangeiro direto], acredito. É um número expressivo.
Obviamente porque São Paulo é a capital comercial, digamos assim, do Brasil. Mas nós também queremos garantir, assim como fazemos em casa, que não estamos focados apenas nas regiões que estão indo bem, mas também nas regiões que estão carentes.
Mas, direi, Patricia, é muito importante também as comunidades que estão carentes. Uma das coisas que mais me impacta é a incrível diversidade do Brasil. 56% dos brasileiros são afrodescendentes.
Passei algum tempo com mulheres empreendedoras afro-brasileiras com 'VCs' [venture capital], capital de risco, que estão tentando direcionar investimentos nas comunidades afro-brasileiras. E isso para nós é tão importante quanto às regiões menos prósperas.
SBT News - Houve um número de representantes do governo brasileiro recentemente na China, em Pequim. Eu estava lá naquela cobertura. O Ministro da Economia Fernando Haddad disse naquele encontro que houve uma saída de investidores americanos no Brasil nos anos passados, se referindo a administração brasileira anterior. É precisa esta realidade, você acredita que houve uma saída de investidores americanos no passado e estamos no caminho correto agora?
DS - Nosso volume atual para o comércio nos dois países foi de 89 bilhões de dólares, números de 2021. Me desculpe, números de 2022. Isso significa um aumento de 26% em relação a 2021. Então, é esta a trajetória. E é isso que realmente nos importa. Pode ter havido temas relacionados à pandemia que nós todos enfrentamos e com muitos de nossos parceiros.
Novamente, o que nós estamos vendo, é que há um rejuvenescimento das nossas relações de trabalho. Nossas empresas estão presentes por lá, estão investindo nas indústrias do futuro.
Passei algum tempo na VTEX Day, que é este grande evento de e-commerce de tecnologia em São Paulo. E eu vi empresas dos Estados Unidos que estão em grande cores naquele evento. Amazon Web Services estavam lá.
Eles estão transportando 85 por cento do tráfego da 'nuvem' no Brasil. Estas são as empresas que são o real barômetro do que é a profundidade da nossa infraestrutura, infraestrutura digital, conexão com a economia brasileira. Então sobre sua pergunta, estamos vendo um aumento no comércio ano a ano quando se trata de nossos números atuais e futuros.
SBT News - Sobre empresários brasileiros que podem estar interessados em estreitar laços com o governo americano. Quais são os canais que eles podem olhar e como eles podem se aproximar destes canais para investir ou ter contato?
DS - Primeiramente, a comunidade de empreendimentos dos Estados Unidos é um grande ator no ecossistema empresarial brasileiro. Algumas pessoas com quem fiz negócios na minha vida passada. Nove unicórnios (startups over $1bi) que estão saindo do Brasil são todos apoiados pela comunidade de empreendimentos dos Estados Unidos.
Então, minha mensagem para empreendedores quando passei um tempo no Cubo em São Paulo foi, que continuem a construir esta relação com o Vale do Silício e outros VCs de tecnologia.
Quando encontramos uma solução confiável e que muitas vezes vem de empreendedores incrivelmente apaixonados por isso, como há no Brasil, as empresas os apoiam. Novamente, nosso principal ativo de mercado é o investimento comercial.
E isso está aberto ao Brasil. Há também uma significante diáspora americana-brasileira nos Estados Unidos, no Sul da Flórida, nós estamos orgulhosos deles. Eles representam um papel importante também na canalização desse investimento para os empresários brasileiros.
SBT News - Um tema importante para nós e para o mundo é a mudança climática. Quais os objetivos atingidos entre a relação comercial entre Estados Unidos e Brasil em relação a este assunto?
DS - Dois produtos que estamos muito entusiasmados, como exemplo, estão na área da energia renovável. O Citibank é, na verdade, o principal financiador de um projeto de energia eólica no valor de US$ 346 milhões no Brasil.
Também temos um consórcio liderado por algumas empresas que estão canalizando até U$ 5 bilhões em investimentos em uma variedade de projetos de energia renovável nos próximos cinco anos, com capacidade de um gigawatt.
Então apenas dois exemplos. Nosso compromisso vem com o setor privado. A liderança é forte, está sendo mostrada com investimento real. Dólares reais que estão sendo implantados enquanto falamos.
SBT News - E quais são os principais interesses dos investidores dos Estados Unidos no Brasil hoje. Quais áreas são prioridades? Sabemos que cidades inteligentes foram um tópico também entre os seus encontros.
DS - Obviamente nosso relacionamento é amplo. As duas economias são muito diversas, assim como o Brasil. Então e' de infraestrutura que falamos. Na verdade, eu me encontrei com integrantes da equipe de desenvolvimento econômico de São Paulo.
E falamos sobre cidades inteligentes como uma iniciativa. Conversamos sobre infraestrutura. A gestão do desperdício de água é um grande desafio. Sabemos que nossas empresas estão ajudando. Falamos de comunicação.
Estamos muito felizes novamente com o envolvimento de empresas de tecnologia dos Estados Unidos. Sabemos que eles podem contar com fornecedores confiáveis para telecomunicações. Então, novamente, e' um respiro, mas claro, você tem também varejo, tem energia, energia tradicional, etanol também.
SBT News - Muito obrigada por esta entrevista.
DS - Muito obrigado pela oportunidade.