De civil a soldado: 6 meses em 5 semanas
SBT News visita local secreto onde milhares de ucranianos recebem treinamento militar na Inglaterra
Enquanto as notícias da contra-ofensiva ganham cada vez mais intensidade na mídia internacional, um grupo de ucranianos se prepara, longe de casa, pra fazer parte da luta. Eles estão no norte da Inglaterra, mas a localização exata não pode ser revelada a pedido do Ministério da Defesa do Reino Unido.
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O SBT News estava no grupo de jornalistas selecionados pra acompanhar o treinamento. 15 mil ucranianos já passaram pelas bases militares britânicas. Outros 20 mil devem chegar até o fim do ano. É um sinal de que as autoridades não esperam um fim rápido para esse conflito.
Embora a idade média seja 33 anos, os novos soldados com quem conversamos estavam na casa dos 20 anos. Só 11% dos que chegam ao Reino Unido tinham alguma experiência militar e apenas 16% deles tem inglês básico, o que demanda a presença de vários intérpretes em meio aos exercícios militares.
Além de combate urbano, eles também recebem treinamento de trincheiras, técnica que ilustra os capítulos da história da Primeira Guerra Mundial e voltou com força nesse conflito. Na região invadida de Zaporíjia, apenas uma das trincheiras construídas pelos russos tem 72 quilômetros de extensão.
Não é à toa que o Reino Unido tem levado jornalistas estrangeiros pra registrar este treinamento, ainda que haja muitas restrições, como não mostrar o rosto dos ucranianos. Os britânicos estão na linha de frente da batalha diplomática pra armar a Ucrânia e pra incentivar que outros países façam o mesmo.
Apesar de estarem bem atrás dos Estados Unidos em ajuda militar (R$ 183 bilhões x R$ 28 bilhões), foram eles os primeiros a aprovar o envio de tanques, o envio de jatos de combate e de mísseis de longo alcance. Não surpreende, portanto, que tenha começado no Reino Unido os treinamentos de civis ucranianos e que nenhum outro país tenha feito tanto nesse sentido.
Por trás da movimentação diplomática, há a crueldade das circunstâncias. Fazendeiros, comerciários, bibliotecários, professores, motoristas e gente das mais variadas profissões são transformados em soldados em apenas 5 semanas. É um tempo mínimo se comparado aos 6 meses que os britânicos gastam para o treinamento básico apenas para técnicas de guerrilha urbana.
Nos dois lados dessa guerra, há milhares sem experiência militar, milhares que já foram mortos e milhares que ainda serão. Angelika não teme a morte. Ela fala com a propriedade de quem já se decidiu. Antes de 24 de fevereiro do ano passado, quando a Rússia começou a invasão em larga escala, ela trabalhava numa biblioteca em Kiev.
"Na situação de uma vida em paz, eu nunca escolheria a carreira militar, mas por causa da guerra, eu preciso estar aqui. Preciso treinar. Eles não pararam em 2014, quando tomaram a Crimeia. Continuaram a tomar território. Eles não vão parar se nós não os pararmos", me disse a jovem de 28 anos.
Não dá pra prever como serão escritos os próximos capítulos dessa guerra. Mas é certo que muitas histórias, como a de Angelika, serão interrompidas na linha de frente e incerto que o preço de tantas vidas será suficiente pra que um dos lados declare-se vencedor.