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Neutralidade do Brasil pode ficar em xeque diante do conflito EUA-China

Tensão entre países vem aumentando conforme desdobramentos sobre Taiwan e guerra na Ucrânia

Neutralidade do Brasil pode ficar em xeque diante do conflito EUA-China
Em caso de confronto entre China e Estados Unidos, uma posição neutra do Brasil não seria muito bem-vinda pelos países | Reprodução/Ricardo Stuckert/Wikimedia Commons
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A tensão entre China e Estados Unidos vem aumentando conforme os posicionamentos sobre a autonomia de Taiwan. Enquanto Pequim reivindica o território, separado por uma guerra civil em 1949, Washington defende explicitamente a soberania da ilha, prometendo até mesmo enviar pacotes militares em caso de invasão. Indiretamente, no meio das intimações, está o Brasil, que, por ter vínculos valiosos com ambos os países, pode ter a tradicional neutralidade posta em xeque em um possível confronto.

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Desde o início do século XX, o Brasil é visto como um ator pacífico diante de guerras, defendendo negociações de paz. Um exemplo recente da posição nacional é a proposta enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos governos da Rússia e da Ucrânia visando o fim da guerra, bem como a defesa da criação de um grupo de nações neutras para mediar os diálogos. Em fevereiro, Moscou informou estar examinando as iniciativas brasileiras, ressaltando que valoriza a posição equilibrada do país. 

"Basta lembrar da nossa história: quando o Brasil entrou nas guerras mundiais, na primeira e na segunda, foi no cenário de finalização. Portanto, o país não é um ator que vai em direções bélicas", explica Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais da PUCSP. Ele comenta que, em caso de confronto entre China e Estados Unidos, o Brasil teria duas opções, uma vez que, diante da forte parceria do governo com as nações, uma posição neutra não seria muito bem-vinda, podendo até impactar na economia nacional.

"A primeira opção seria uma política externa que decidisse um ator preferencial - historicamente sempre pendemos para os ocidentais - ou, no segundo caso, uma tentativa de pragmatismo equidistante, o que nos levaria a uma repetição do que vivemos na década de 30, quando o governo Vargas estabeleceu uma estratégia visando lidar com as duas partes da Segunda Guerra Mundial. No fim das contas, o Brasil acabou do lado dos Estados Unidos. Mas, inicialmente, vemos que o país teve uma postura de tentar preservar a neutralidade para proteger as relações", diz Amaral.

Apesar do cenário, o professor afirma não acreditar, por enquanto, que as tensões entre China e Estados Unidos possam acabar em um confronto armado, já que, como são as duas principais potências mundiais, a ação representaria uma Terceira Guerra Mundial. Segundo ele, os recentes acontecimentos apontam para um cenário similar ao da Guerra Fria [EUA X União Soviética], com os países mostrando um ao outro que possuem força nas atividades militares e que o ideal seria evitar um conflito.

No entanto, além da tensão sobre Taiwan, o governo de Washington acusa Pequim de compactuar com a Rússia em relação à invasão na Ucrânia, uma vez que, apesar de defender uma postura neutra, o país continua aprofundando os laços bilaterais. Na 6ª feira (17.mar), por exemplo, o Kremlin confirmou a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao território russo. O líder irá se encontrar com Vladimir Putin para discutir parcerias e relações estratégicas, bem como cooperações internacionais.

Tal visita acontece em meio a alertas de autoridades norte-americanas, que apontaram para possíveis consequências caso a China fortalecesse as relações com a Rússia. Isso porque Washington acredita que o país asiático não descarta a possibilidade de enviar armas para Moscou, o que intensificaria a invasão no território ucraniano. Pequim, por sua vez, nega as especulações, afirmando que defende a paz em Kiev.

Em ambos os discursos - Taiwan e Rússia -, Amaral acredita que há tensões, mas com uma intencionalidade de não escalar as relações. O professor avalia, contudo, que para evitar um confronto ambos os governos devem aumentar o diálogo diplomático e reduzir as práticas ativas militares. Um exemplo disto são os mecanismos de espionagem, que, no caso dos Estados Unidos, vem auxiliando as tropas ucranianas na guerra. Já em relação à China, o exemplo mais recente é o "balão espião" identificado em Washington. 

"Os dois autores também precisariam diminuir a postura em relação à Taiwan. Com isso, os países poderiam voltar para, no máximo, uma disputa comercial ou tecnológica, o que é um caminho menos bélico", conclui Amaral.

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