Copa do Mundo no Catar chama atenção para tradições muçulmanas
Islamismo tem cerca de 1,9 bilhão de seguidores ao redor do mundo
SBT Brasil
Passa das 06 horas da tarde, o Sol já se pôs. E, nas mesquitas, é hora de mais um chamado para a oração. O que, para muitos, é apenas um ritual. Assim como no cristianismo, boa parte do mundo muçulmano também não leva tudo ao pé da letra.
A mineira Paula Djanine mora no Catar, onde as mulheres precisam de autorização masculina para ter acesso a alguns trabalhos, cursos, estudos. "É uma formalidade. Inclusive, eu sempre viajei, sempre estudei aqui, etc, e nunca precisei de autorização para nada. Minhas amigas que são catari, é a mesma coisa", conta a brasileira, que é mestranda em estudos islâmicos.
Bem-vindos a 1444, atual ano do calendário islâmico no primeiro país muçulmano a sediar uma Copa do Mundo. Por isso mesmo, os holofotes não estão apenas no futebol, mas nesta religião, que tem quase 1,9 milhões de seguidores ao redor do mundo - e nem todos são árabes.
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A maneira como interpretam a história do Islã divide o mundo muçulmano em duas correntes principais: Xiitas, como os iranianos, e a grande maioria, que é Sunita, como os cataris e os sauditas, por exemplo.
Em todos os países com maioria dessa religião, também há muita diferença na maneira como a lei islâmica, a Sharia, influencia a vida das pessoas. O maior erro é enxergar todos que pertencem a este mundo de uma única maneira.
Uma das interpretações mais radicais do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, é a dos Talibãs, que obrigam as mulheres a usar a burca e as proíbem de estudar.
O grupo terrorista Estado Islâmico é ainda mais radical ao defender a morte de não-muçulmanos e dos que não seguem sua cartilha. Por este motivo, a facção tem a oposição da maioria dos países islâmicos, principalmente os mais liberais, onde o véu nem é obrigatório.
Em sua casa, em Doha, a brasileira mestranda em estudos islâmicos comentou sobre um assunto que tem dominado as manchetes nos últimos dias: a censura aos protestos em defesa da comunidade LGBTQIA+, criminalizada na maior parte dos países islâmicos.
"Existem gays no Catar. Existem em todos os lugares do mundo. Pela lei, é proibido, porém, é uma lei que, em toda a história do país, nunca foi implementada. Isso já diz muita coisa. Eu conheço vários cataris gays, e está todo mundo vivendo normal", destaca a mineira.
"Mas, não podem se colocar socialmente como gays?", questiona o enviado especial do SBT ao Catar, Sérgio Utsch. Paula responde: "não, eles não se colocam socialmente como gays. Da mesma forma, afetos não são discutidos publicamente no Catar, mesmo entre casais heterossexuais".
Ser tolerado apenas não é algo que traz dignidade a um ser humano, mas talvez seja um passo no caminho do dia em que todos serão tratados de forma igual, nas leis e na vida real.
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