COP-27: o que esperar do maior evento sobre mudanças climáticas do mundo
Empresa de logística, um dos setores mais cobrados, mostra adaptações que tem feito
Conter as mudanças climáticas a partir de mecanismos aplicáveis globalmente. Este é o objetivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), ao realizar anualmente a Conferência das Partes (COP, na sigla em inglês para Conference of the Parties). O evento ocorre entre os dias 6 e 18 de novembro de 2022 em Sharm El Sheikh, no Egito. Em 2022, o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que analisa as vulnerabilidades, as capacidades e os limites do mundo e da sociedade para se adaptar às mudanças climáticas, vai guiar as conversas principais da COP-27.
Durante a conferência, os países devem definir aspectos centrais para a implementação do Acordo de Paris, falar sobre os compromissos que estão sendo trabalhados por eles e dar previsibilidade ao financiamento climático. Nos 12 dias de evento, os participantes vão debater sobre a adaptação climática, mitigação dos gases de efeito estufa (GEEs), o impacto climático na questão financeira e a colaboração para conter o aquecimento global. O calendário completo da COP-27 pode ser acessado no site do evento.
COP-26 e pós-pandemia
A última edição em 2021, que ocorreu em Glasgow, na Escócia, foi realizada com um ano de atraso devido à pandemia da covid-19. A conferência, que teve participação de chefes de Estado e representantes de 197 países, foi marcada pelo compromisso assumido pelo setor privado, inclusive do Brasil. Durante a COP 26, foi assinado o posicionamento "Empresários pelo Clima", do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), comprometendo-se a implementar medidas para reduzir e compensar as emissões de GEEs, estabelecer uma precificação interna de carbono, descarbonizar as operações e cadeias de valor, investir em tecnologias verdes e assumir metas de neutralidade climática até 2050.
O setor elétrico e tecnológico desempenham papeis fundamentais para atingir o propósito do Acordo de Paris em limitar o aumento da temperatura do planeta a menos de 2º C até o final do século e concentrar esforços para chegar ao máximo de 1,5ºC, por meio de sua Política Contra as Mudanças Climáticas e do compromisso firmado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (Ação contra a mudança global do clima). Ainda na convenção, 105 países se comprometeram a adotar iniciativas para deter e reverter a perda florestal e a degradação do solo até 2030. Após as negociações na COP-26, foi assinado o Pacto Climático de Glasgow. O documento traz a definição de formato do mercado global de carbono, defende a aceleração da transição energética para fontes limpas e estabelece a redução de emissões de CO? em 45% até 2030 e neutralidade até 2050.
Conheça alguns dos marcos importantes da história das Conferências das Nações Unidas sobre Mudança do Clima:
Esse assunto de uma forma geral é novo em sua implementação efetiva em muitas empresas, e exige criatividade e esforços multilaterais para concretização. Algumas já vem se adiantando e apresentando algumas soluções amigáveis de encontro com o acordo firmado na COP-26.
Esse tema vem sendo um dos desafios para a empresa global de logística e transporte marítimo, AP Moller-Maersk, responsável por transportar 20% de todos os containers do mundo, o que equivale a produção de 36 milhões de toneladas de emissão de CO2 por ano, mas as emissões no transporte vão muito além de só navios. A empresa já apresenta uma agenda forte e ativa para equilibrar as questões ambientais que gera em seus negócios globais. Na América em geral estão com caminhões a diesel e GNV e alguns caminhões elétricos, amigáveis à agenda verde. No Brasil são 100 caminhões com motor euro5 e 60 caminhões motor euro3, e na América do Norte adquiriram recentemente 120 unidades elétricas para sua frota terrestre. Os caminhões elétricos de grande porte só não estão ainda no Brasil e América Latina, por não haver estrutura nacionalizada para o reabastecimento elétrico assim como há com os combustíveis tradicionais.
A diretora da Costa Leste América Latina, Karin Schoner, e o Gerente Regional de Logística América Latina e Caribe, Ricardo Rocha, explicam que nos últimos anos tudo que vem acontecendo com o Grupo AP Müller (Maersk, Aliança, Hamburg Süd, Sea Land e APM Terminais) está diretamente relacionado ao que chamam de "Deserption" (deserção/renúncia) em toda a cadeia de suprimentos. Boa parte das recentes decisões tem relação direta com todo o impacto da pandemia de Covid-19. Há três anos um dos primeiros objetivos era efetivar toda a cadeia logística em 100% livre da emissão de carbono até 2050, e diante de todo acontecimento recente, e como empresa pioneira, sentiu-se na obrigação de antecipar a agenda, e assim o fizeram, sem ao menos saber muito bem como fariam. De acordo com os gestores da empresa, o propósito desse movimento é demonstrar para o mundo a importância do que está acontecendo hoje no meio ambiente e o comprometimento da empresa em apresentar melhorias até 2040.
"AP Moller-Maersk contratou diversas empresas e especialistas no assunto que ajudam a desvendar os mistérios do tema sustentabilidade e equilíbrio nas emissões de CO2, pois muita gente fala de ESG, descarbonização da cadeia logística, mas a grande verdade é que todo mundo está começando agora, não existe empresa que esteja muito avançada nisso. Para melhor contextualizar queremos até 2030 ter 25% de todos os navios no mundo emitindo gases amigáveis. Em 2030 também buscamos a utilização de combustíveis mais amigáveis ao meio ambiente, além de frotas de caminhões elétricos em regiões que apresentam a malha que permita esse tipo de serviço", conclui Rocha.
Há atualmente projetos saindo do papel e com previsão de entrega em 2024, a operadora logística brasileira pertencente ao grupo A.P. Moller-Maersk, a Aliança, está construindo as duas primeiras barcaças oceânicas para transporte de contêineres do Brasil, especialmente projetados para operar em mar aberto e com capacidade de 700 TEU, aproximadamente quatro vezes mais do que as atuais. Esses modelos apresentam segurança no transporte, eficiência e a sustentabilidade reduzindo a emissão de CO2, já que permitem o transporte simultâneo de um volume maior de carga em relação a outras embarcações do mesmo tipo, assim como quando comparada ao transporte terrestre. Além disso, seus propulsores estarão aptos a serem atualizados para futuramente utilizar combustíveis neutros como o metanol.
Quanto ao transporte aéreo, segundo Karin Schoner, nesses casos é preciso se sentar e dialogar com cada cliente como será a distribuição no transporte aéreo, apresentar a cadeia de suprimentos verdes. É aqui que entra o lado criativo para ver qual cia aérea vão utilizar, conferir os aviões na rota. "Os preços variam muito, e os consumidores já buscam pela solução mais sustentável para compor seus produtos. Nós somos os parceiros", explica.