Detento palestino encerra greve de fome de seis meses após conseguir acordo

Um palestino detido por Israel sem qualquer acusação ou julgamento encerrou sua greve de fome após quase seis meses. O protesto termina porque Khalil Awawdeh conseguiu chegar a um acordo, que prevê sua libertação em outubro deste ano. 

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O homem de 40 anos, que tem quatro filhos, corria risco de morte, segundo advogados e médicos, e já sofria danos neurológicos pela falta de ingestão de alimentos. Nas últimas fotos, apareceu extremamente magro e com aparência de doente. Os ossos ficaram à mostra. 

Em um vídeo que circulou na internet nesta 4ª feira (31.ago), aparentemente filmado de uma cama de hospital, Awawdeh chamou o acordo conquistado de "vitória retumbante" para o povo palestino. Ele estava em detenção administrativa. Israel diz que a prática é necessária para manter militantes perigosos fora das ruas sem revelar informações confidenciais. Os palestinos e grupos de direitos humanos dizem que é negado aos detidos o direito básico do devido processo legal, como ocorre com a maioria dos civis.

A Comissão de Assuntos de Detentos, parte da Organização para a Libertação da Palestina, disse que Awawdeh chegou a um acordo que o libertaria em 2 de outubro, "depois de travar uma batalha épica pela qual sacrificou sua carne e vida". Os militares israelenses, o serviço penitenciário e o Ministério da Defesa se recusaram a comentar o caso. 

Israel acusa Awawdeh de ser membro do grupo militante Jihad Islâmica, o que ele nega. O que contribui para o pensamento do Estado é que o grupo exigiu sua libertação como parte do cessar-fogo que encerrou três dias de intensos combates em Gaza no início deste mês, sem identificá-lo como membro.

Ahlam Haddad, advogado de Awawdeh, disse esta semana que seu cliente pesa 37 quilos e está sofrendo de danos neurológicos. Ele tomou vitaminas durante duas semanas em junho, quando achou que seu caso estava sendo resolvido, mas, por outro lado, só ingeriu água desde que a greve começou em março, segundo a família. Israel havia suspendido oficialmente sua prisão, mas ele permaneceu sob custódia em um hospital israelense.

Vários palestinos entraram em greve de fome prolongada nos últimos anos para protestar contra a detenção administrativa. Na maior parte dos casos, Israel acabou libertando-os quando a saúde se deteriorou significativamente. Ninguém morreu sob custódia, mas muitos sofreram danos neurológicos irreparáveis.

Atualmente, Israel mantém 743 detidos administrativos, o número mais alto desde 2008, segundo o grupo israelense de direitos humanos HaMoked, que rastreia o dado usando números oficiais obtidos por meio de solicitações de liberdade de informação. O número de detidos administrativos disparou nos últimos meses, quando as forças israelenses realizaram ataques noturnos na Cisjordânia, ocupada após uma série de ataques mortais contra israelenses no início deste ano. Quase todos os detidos administrativos são palestinos, pois a prática é raramente usada com detidos judeus.

Israel is now holding 723 Palestinians in administrative detention - the highest number since 2008 https://t.co/RDHpLvmYAP

? HaMoked (@HaMokedRights) August 22, 2022

"A detenção administrativa deve ser uma medida rara e excepcional, mas é uma prática padrão no tratamento de Israel aos palestinos, com centenas de pessoas detidas por meses a fio. Sem acusação ou julgamento, apenas com base em informações secretas", disse Jessica Montell, diretora de HaMoked.

Israel mantém atualmente cerca de 4.400 prisioneiros palestinos, incluindo militantes que realizaram ataques mortais, bem como pessoas presas em protestos ou por atirarem pedras. Os palestinos veem todos eles como prisioneiros políticos detidos por resistirem à ocupação militar de 55 anos de territórios que os palestinos desejam para um futuro Estado.

*Com as informações, Associated Press