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"Perdemos a esperança em um futuro melhor" diz jornalista afegão

1 ano após a tomada de Cabul, o SBT News conversou com o jornalista afegão Mohammad Pardes

"Perdemos a esperança em um futuro melhor" diz jornalista afegão
Mohammad esposa e filhas
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Washington, DC - Há exatamente um ano ele se juntou à equipe do SBT, a distância, para contar o que acontecia em seu país. Mohammad Pardes, jornalista de Cabul, narrou em primeira pessoa para o SBT Brasil e para o portal SBT News, em agosto de 2021, como era viver na capital afegã recém dominada pelo Talibã.

Com coragem e duas filhas pequenas em casa, cumpriu sua função de jornalista. Foi para as ruas, gravou imagens e entrevistas num momento em que trabalhar em Cabul, sendo afegão e jornalista, era colocar a vida em risco. 

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Neste 15 de agosto de 2022, conversei com Mohammad. "Há cinco meses eu deixei o país e tudo para trás com minha família, minhas duas filhas. Eu vim para o Paquistão. Estou tentando cooperar com agências de notícias, vamos ver o que acontece no futuro", ele disse. Com experiência em reportagem e apresentação em rádios e TVs do Afeganistão, Mohammad trabalhou para meios nacionais estrangeiros. Seguir com este ofício se tornou impossível.

"Falando honestamente, no começo eu pensei -- assim com muitos -- que o Talibã iria mudar e as coisas voltariam ao normal logo, mas depois de alguns dias e meses, o cenário que imaginei estava errado. É praticamente impossível trabalhar de forma livre no Afeganistão como um jornalista, então preferi deixar o país", relata.

Pergunto sobre suas filhas pequenas, de 2 e 5 anos. "Honestamente, por causa delas eu decidi sair do país. Não foi uma escolha fácil. Eu não me importo muito comigo mas eu me importo com o futuro das minhas filhas e este futuro parece muito escuro para elas, por lá, infelizmente".

No Paquistão, Mohammad e a esposa Waheeda alugaram uma casa e vivem com o dinheiro economizado ao longo dos anos. Os trabalhos como jornalista freelance não tem surgido com a frequência desejada. Ele entrou em contato com ONGs que oferecem auxílio à refugiados. "Infelizmente centenas de milhares de jornalistas estão aqui também. Então as ONGs estão em dificuldade para auxiliar os refugiados. Mas me considero privilegiado porque falo dois idiomas estrangeiros, então é minha esperança para conseguir trabalho". 

A saída de Cabul

A saída da cidade onde nasceu não foi fácil, Mohammad conta. "Eu saí no dia 14 de abril. O DIG, Departamento de Inteligência do Talibã, mandou uma carta para nossa casa. Nesta carta eles pediam detalhes sobre os integrantes da minha família. Exigiam informações e diziam que os dados deveriam ser corretos. Se eu falasse para eles que eu sou um jornalista que trabalha para a mídia do ocidente, obviamente eu colocaria a todos em grande perigo. Então depois disso eu decidi deixar o país por terra. Deixei minha casa e vim para o Paquistão."

Você saiu no outro dia?, questiono. "Eles mandaram a carta. Então falei com alguns amigos e eles me disseram que se eu não desse informações precisas obviamente eles iriam me procurar. Então meus pais me disseram também: vai ser melhor você deixar o país". Como o único visto que ele tinha era do Paquistão, Mohammad e a família foram para o país vizinho.

"Não é um país ideal mas é mais seguro que Cabul." O jornalista diz que o grande alívio que tem são os amigos, muitos jornalistas estrangeiros que o ajudam a conseguir emprego esporádico. "Muitas pessoas estão sem poder saír do Afeganistão porque os países não estão emitindo novos vistos para afegãos. Então, há muitas dificuldades para os que ainda não tem vistos", conta. 

Pergunto qual a perspectiva dele para o futuro no marco do um ano da tomada de Cabul. 

"A primeira coisa: não é sobre mim apenas. Como eu, milhares de pessoas perderam a esperança por um futuro melhor. Isso é ponto mais difícil e preocupante. Quando a pessoa não tem mais esperança pelo futuro. Então obviamente é o último estágio do desapontamento. Os jornalistas afegãos, quem estudou, estas pessoas acreditam em valores democráticos, valores de liberdade, liberdade de expressão, não usar a violência. Infelizmente para as autoridades atuais no afeganistão a única regra para eles é a força e não sabemos o que vai ser do futuro", desabafa.

Por último questiono como ele descreve a cobertura estrangeira no Afeganistão já que a maioria deixou o país no último ano.

"Quando Cabul colapsou e o Talibã tomou o poder, muitos meios de comunicação estrangeiros colocaram mais atenção no Afeganistão e eles estavam cobrindo o que ocorria ali. Logo depois disso, o que aconteceu de acordo com meu entendimento é que a comunidade internacional, e eu sou jornalista então estou falando sobre jornalismo e os que cobriam o país, eles esqueceram o Afeganistão. Agora que estamos no marco do um ano da tomada de Cabul alguns deles estão com atenção no que está acontecendo  -- alguns deles. Mas outros de novo esqueceram o Afeganistão e, infelizmente, enquanto vivemos num mundo globalizado, muitos esquecem nossa nação e as consequências são grandes. Esta é a realidade", nos diz. 

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