Insegurança alimentar: agro mundial discute soluções em evento em SP
Global Agribusiness Forum reuniu pesquisadores, executivos, empresários e políticos
Pablo Valler
"Clima, covid e conflitos, que nos levaram a uma crise." Quatro "Cs" que definem a atualidade, disse mais de um painelista participante do Global Agribusiness Forum, evento realizado em São Paulo (SP) durante a 2ª e a 3ª feira (25 e 26.jul).
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Com essas causas nem é preciso dizer que o tema mais debatido foi a insegurança alimentar. Atualmente, mais de 700 milhões de pessoas passam fome no mundo, conforme pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU). Como resolver? A solução não é simples.
Para começar, de acordo com uma opinião quase unânime, é preciso distribuir melhor a renda. Então, agora até nesses eventos, repletos de políticos e empresários, está se discutindo o capitalismo. "Se a globalização já era questionada no ponto de vista cultural, agora é também na área econômica", pontuou Lloyd C. Day, vice-diretor geral do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (Iica).
Mas, obviamente, o sistema livre de comércio, com oferta e demanda que se autorregulam, não será mudado de hoje para amanhã. Ou nunca. No máximo pode ter algumas adaptações para se conseguir que mais pessoas tenham acesso pleno a, no mínimo, a alimentação.
Por exemplo, a Organização Mundial do Comércio (OMC), por meio de seu diretor de agricultura e commodities, Edwini Kessie, fez um verdadeiro apelo para que se melhorem os acordos entre os países: "O foco deve estar em alimentar a população e não em usar o alimento para criar restrições de mercado e medir força política".
O representante da OMC disse ainda que "muitos países acreditam que a forma de contornar a insegurança alimentar é protegendo o estoque público de alimentos". O que, para ele, não significa que o país irá garantir segurança alimentar. Pode ter como consequência a proibição de importação de outros produtos necessários à sua população. Um retaliação comum que gera um efeito "bola de neve" sobre o comércio.
A OMC pretende reunir, em outubro, ministros de Relações Exteriores para rediscutir acordos comerciais. Facilitar a distribuição com uma troca menos burocrática e taxada. Em vez de impostos, os países poderiam trocar incentivos financeiros. Por exemplo, se a China precisa da soja do Brasil, por que não incentivar lavouras ou estudos científicos sobre o tema e aumentar a produção, facilitando a exportação.
Problemas internos também foram discutidos. Marcos Jank, pesquisador do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), falou que "o governo ainda nos deve a fiscalização do desmatamento e da regularização ambiental" ao apresentar dados sobre uso da terra e como o Brasil tem levado pouco a sério a percepção que o mundo tem sobre nós.
A cobrança do pesquisador vai de encontro a pautas do agronegócio na política. Como a ideia de diminuir a Amazônia Legal retirando dela todo o estado de Mato Grosso, o que permitiria a abertura de novas áreas de cultivo e mais desmatamento, mesmo que legalizado.
A própria Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) defendeu que o país não precisa abrir novas áreas de cultivo. "Temos 90 milhões de hectares de terras degradadas. Mais da metade dá para recuperar e trabalhar", disse Celso Moretti, presidente da instituição.