Varíola dos macacos: entenda a doença em cinco pontos
Infectologista explica os principais sintomas e a situação epidemiológica da enfermidade
Erupções cutâneas, febre e dores de cabeça. Estes são alguns dos sintomas da varíola dos macacos, doença viral que vem se espalhando pela Europa e já soma 92 casos em países não endêmicos, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Com um caso confirmado na Argentina ontem (22.mai), a varíola dos macacos também chegou às Américas e pode ser registrada em poucos dias no Brasil, segundo a infectologista Ana Helena Germoglio.
"Essa varíola é uma doença que já é endêmica do continente africano, mas não é a varíola da década de 1980 que foi erradicada graças a imunização. São vírus da mesma família, mas com manifestações diferentes, que conseguiram passar dos animais para os seres humanos por se tratar de uma zoonose. Agora, conseguiu ultrapassar as fronteiras do continente africano, e, inicialmente, foi diagnosticado, a maior parte dos casos, no Reino Unido e já existem em diversos países, inclusive, migrando aqui para as Américas", diz.
No entanto, a infectologista destaca que o índice de mortalidade é baixo para a doença, porém é preciso se precaver com o uso de máscaras e também de distaciamento de pessoas contaminadas. Entenda mais sobre a doença em cinco pontos:
Situação no mundo
A doença, classificada como uma zoonose viral -- vírus transmitido aos seres humanos a partir de animais -- emergiu em países da África Central e Ocidental em 1970. Desde então, a maioria dos casos foi relatada em países da região.
No entanto, desde 13 de maio de 2022, casos da varíola dos macacos foram encontrados em 12 estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) que não são regiões endêmicas. Até o último sábado (21.mai), a OMS registrou 92 casos confirmados e 28 suspeitos em países como Canadá, França, Alemanha, Portugal, Espanha e no Reino Unido. Confira mais informações no mapa abaixo:
Contágio
A transmissão da doença de pessoa para pessoa pode ocorrer por meio do contato direto com as lesões cutâneas e também por via respiratória ou objetos contaminados.
"A disseminação da doença se dá no contato de pessoa para pessoa do líquido que contém na secreção ou também de transmissão respiratória, mais uma serventia da máscara. As pessoas desenvolvem mal-estar, dor no corpo e evoluem com essas lesões cutâneas, essas lesões na pele. No entanto, tem uma mortalidade muito baixa, quando a gente compara com a covid-19 ou com a própria hepatite misteriosa", destaca a infectologista Ana Helena Germoglio.
Segundo a médica, notícias foram veiculadas informando que há um fator de risco através de vias de transmissão sexual, o que não foi comprovado, segundo a OMS. A especialista alerta para a estigmatização da doença focada em um grupo específico.
"Várias notícias foram veiculadas sobre a transmissão na população homossexual, principalmente de homens que têm relação com outros homens e a gente sabe o poder de estigmatização que isso pode ter, como aconteceu com o HIV, que era conhecida como a doença dos gays, a praga gay, e a gente não pode tratar uma doença estigmatizando uma população específica. Não é que seja transmitida através de contato sexual, mas, sim, de contato próximo, de uma pessoa com outra, porque essas lesões dentro delas estão cheias de vírus, daí que vem a prática de transmissão através de contato próximo. Daí uma das medidas de precaução é precaução de contato quando esses pacientes estão internados, mas não te conexão com a prática sexual. Não podemos deixar que outra doença surja estigmatizando a população LGBTQIA+", ressalta.
Sintomas
Os sintomas costumam aparecer dentro do prazo de 5 a 21 dias após a infecção pelo vírus. Febre, dor de cabeça, dores musculares, dor nas costas, linfonodos inchados, arrepios, exaustão e erupções cutâneas são os principais sinais da contaminação pela varíola dos macacos.
Tratamento
A médica explica que não há um tratamento específico para a varíola dos macacos, no entanto, há formas de aliviar os sintomas. É preciso ir ao médico e receber o diagnóstico e as orientações corretas. "Em relação a tratamento, não existe tratamento específico, estão estudando alguns antivirais feitos para melhorar os quadro clínicos, mas esses pacientes podem evoluir com complicações dessa lesão, principalmente com infecção nesses locais que podem levar aos quadros mais graves. Por isso é importante, na suspeita dessas lesões, procurar a assistência médica para ter o diagnóstico correto", afirma.
Prevenção no Brasil
De acordo com a infectologista Ana Helena Germoglio, após o diagnóstico, é preciso isolar, mandar o material para análise e confirmar o vírus.
"Herpeszoster e catapora podem ter um quadro semelhante, por isso é importante ter um diagnóstico correto, porque essas outras doenças têm tratamento específico que podem melhorar e muito a vida do paciente, mas especificamente para a varíola dos macacos não tem tratamento específico, mas há medicamentos que podem melhorar a vida do paciente", ressalta.
Contudo, a médica destaca que, se tratando de políticas públicas, é preciso informação para que profissionais que atendam em unidades básicas de saúde consigam identificar os sintomas. "O governo montou um comitê para monitorar estes casos, tanto de hepatite como da varíola dos macacos, mas o que é preciso é difundir o conhecimento para as equipes de atendimento que estão lá na ponta, onde as pessoas não conseguem reconhecer. É preciso investir em políticas de diagnóstico e prevenção dessa e de outras doenças", completa.