Hollywood News: Vai de comédia ou de vida real?
"Cidade Perdida" e "Flee" chegam aos cinemas brasileiros e trazem opção de diversão e reflexão
Cleide Klock
As sugestões direto de Hollywood desta semana trazem duas produções completamente diferentes. O documentário "Flee - Nenhum lugar para chamar de lar" - que fez história no Oscar -, e a comédia em ritmo de aventura "Cidade Perdida" chegam aos cinemas brasileiros, nesta quinta-feira (21.abr).
O melhor da comédia em "Cidade Perdida"
Sandra Bullock, Channing Tatum, Daniel Radcliffe e Brad Pitt levam aos cinemas uma comédia romântica despretensiosa e deliciosa. Daqueles filmes que nos fazem ficar sorrindo o tempo inteiro. Saímos mais leves do que entramos na sala e relembramos como faz bem uma história que não leva a vida tão a sério.
"Cidade Perdida" (Paramount Pictures) assinado pelo cineasta Aaron Nee traz um enredo que remete diretamente ao filme da década de 1980, "Tudo por uma Esmeralda", e acaba sendo uma repaginada, um remake não oficial do longa dirigido por Robert Zemeckis com Michael Douglas, Danny De Vito e Kathleen Turner.
A trama, filmada em plena selva da República Dominicana, faz com que a gente mate a saudade das antigas comédias feitas por Bullock, como Enquanto Você Dormia (1995), Miss Simpatia (2000), A Proposta (2009), As Bem-Armadas (2013).
Com um macacão pink de lantejoulas em plena floresta, ela brinca cheia de caras, bocas e performances coreografadas perfeitamente. Channing Tatum não fica atrás com um personagem divertido no mesmo nível e Daniel Radcliffe nos surpreende ao revelar um lado pouco conhecido do menino que vimos crescer como o bruxinho Harry Potter. Brad Pitt tem bem menos tempo de tela, mas nem por isso deixa de ser uma participação marcante e deliciosa.
"Loretta Sage é uma escritora que já fez muitos romances. Ela vive reclusa, prefere ficar na segurança de sua casa. Nada de errado com isso, né? Ela teve uma perda anos antes e encontrou grande conforto em sua casa, em seus livros e em sua mente. Ela não sente que precisa sair para ter aventuras porque escreve sobre isso, então as experimenta em sua imaginação, mas não sente a necessidade de sair e ter aventuras", adianta Sandra Bullock sobre sua personagem.
Durante uma turnê de lançamento junto com o até então apenas modelo das capas de suas aventuras literárias Alan/Dash (Channing Tatum), Loretta é sequestrada pelo bilionário, um tanto excêntrico, Abigail Fairfax (Daniel Radcliffe).
"O roteiro é fantástico. Este é um exemplo de um filme fantástico e divertido de aventura, do tipo que a gente não vê mais. Há na trama algumas pitadas de autoconhecimento e autoconsciência, mas ao mesmo tempo é o que é", conta Daniel Radcliffe.
O modelo das capas do livro, Alan, se sente na obrigação de assumir o papel de herói com a ajuda de Jack Trainer (Brad Pitt)
"Eu acho que esses filmes são inspiradores, são para você se sentir bem mas também mantém o clima de aposta. E acho que ninguém sabe fazer isso melhor que a Sandra, ela realmente aumenta o tom, mas ao mesmo tempo você se preocupa com a personagem dela, você embarca e torce por ela, se preocupa com a vida dela. Você brinca junto, ri e não acredita que isso está acontecendo", conta Tatum.
Flee - Nenhum lugar para chamar de lar
Finalmente chega também aos cinemas brasileiros nesta quinta (21.abr) esta obra-prima da sétima arte. "Flee - Nenhum lugar para chamar de lar" (Diamond/Galeria) fez história ao concorrer ao Oscar em três categorias: Melhor Animação, Documentário e Filme Internacional. O longa conta a trajetória de Amin (nome fictício para manter a segurança do narrador), que fugiu do Afeganistão quando ainda era um menino, na década de 1980, em busca de um lugar para chamar de lar.
A narrativa traz o próprio refugiado mergulhado em suas dolorosas memórias: ouvimos a voz real dele contando sua saída em direção à Europa, como se estivesse em uma sessão de terapia. Toda a narrativa cheia de sensibilidade e empatia é em animação.
O filme é assinado pelo dinamarquês Jonas Poher Rasmussen. O cineasta relatou em uma sessão especial promovida pelo jornal Los Angeles Times, antes do Oscar, que Amin é seu amigo pessoal (como o próprio filme revela) e que ele sempre teve a curiosidade de conhecer a fundo como foi o percurso do afegão até a Dinamarca, há cerca de três décadas. Mas, Amin nunca conseguia falar sobre o passado.
"Eu sempre fiquei curioso sobre como e por que Amin chegou a minha pequena cidade na Dinamarca. Eu perguntava e ele nunca queria falar. Claro que respeitei. Essa história se tornou uma espécie de caixa-preta na nossa amizade. Cerca de nove anos atrás ele me surpreendeu dizendo que não só queria falar mas também compartilhar sua história porque por muitos anos o passado e o presente dele ficaram desconectados. Ele queria conseguir falar do passado para as pessoas que encontrasse", contou o diretor.
Rasmussen revelou que o formato animou Amin a contar sua história, pois assim poderia continuar anônimo.
O que lar significa para você?
O filme começa com esse questionamento: o que lar significa para você?
"É um lugar seguro", responde Amin e nos leva a refletir sobre o nosso próprio lar, mas também de tantas pessoas que não tem um lugar assim para chamar de seu.
"Eu cresci em um lugar onde eu me sinto seguro, eu posso voltar sempre para cidade onde cresci e sentir a calma que tinha na minha infância. Mas eu queria entender este fato de que muitas pessoas não têm esse lugar, por isso eu fiz esse filme. Amin não tem este lugar. Eu perguntei se ele gostaria de retornar à cidade natal dele e ele me disse que esse lugar não existe mais", contou Rasmussen.
O espectador é convidado a percorrer as andanças das memórias de Amin, quase que totalmente em ordem cronológica com poucos desvios de rota. Um caminho doloroso com a saída de Cabul após o desaparecimento do pai, passando por percalços em terras russas e diversas tentativas de fuga e travessia para a Dinamarca. Paralelamente -- e não menos importantes -- há questões de descobertas pessoais.
Em tempos em que não paramos de ver histórias de refugiados que fogem e deixam para trás tudo que têm em busca de abrigo, segurança e de um ressignificado para a palavra e o sentimento 'lar', nada mais importante do que dedicar esses 90 minutos do documentário para essa reflexão.
O filme não levou nenhum Oscar dos quais estava indicado, mas isso não lhe rouba nenhum mérito.