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Da KGB à presidência: entenda a trajetória de Vladimir Putin ao poder

Saiba como o ex-agente dos serviços de segurança russo e soviético se tornou uma das maiores lideranças políticas do século

Da KGB à presidência: entenda a trajetória de Vladimir Putin ao poder
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"Hoje, eu me dirijo a vocês pela última vez como presidente da Rússia. (...) Eu tomei a decisão, e foi uma decisão difícil. Hoje, no último dia deste final de século, eu renuncio."

Enquanto o mundo todo se preparava para o início do século 21, na Rússia, a população assistia ao pronunciamento que mudaria definitivamente, pelos próximos anos, o destino do país. No dia 31 de dezembro de 1999, o então presidente Boris Yeltsin anunciou que deixaria o cargo e, para o seu lugar, designou uma figura que, há apenas 4 meses, havia ganhado as manchetes do país... para nunca mais deixar.

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Yeltsin continuou: "De acordo com a Constituição, eu escrevi uma ordem transferindo as responsabilidades do governo para o primeiro-ministro Vladimir Vladimirovic Putin". Nem o então presidente, que amargava dificuldades econômicas e uma intensa impopularidade, e muito menos a população russa, poderiam imaginar, mas surgia ali uma das personalidades políticas mais marcantes do século que acabava de nascer.

Aos 47 anos, o ex-chefe dos serviços secretos soviético e russo, e recentemente empossado premiê, assumiu interinamente a presidência da Rússia, mas a imagem, mantida até os dias de hoje, do líder destemido, inabalável e nacionalista, começou a ser forjada muito tempo antes, durante a guerra da Chechênia.

Vladmir Putin foi agente da KGB e ocupou postos de liderança | Kremlin

Tudo começou com a assinatura do tratado de paz entre Moscou e os grupos separatistas chechenos, que colocou fim ao conflito armado que deixou mais de 50 mil mortos, entre os anos de 1994 e 1996, e sepultou de vez o mandato de Yeltsin. Foi então que o mais novo primeiro-ministro russo deu início à incursão militar que, em pouco tempo, lhe renderia a popularidade necessária para assumir o posto de comando mais alto do país.

Em resposta a dois ataques supostamente orquestrados por combatentes chechenos islamitas, com o apoio de separatistas, Putin ordenou o bombardeio e a invasão do território emancipado, recuperando o controle da região.

Nem mesmo os rumores do possível envolvimento de agentes da FSB, a agência russa de serviços de informação, que substituiu a KGB após a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e na qual Vladimir Putin ocupou postos de liderança por cerca de 16 anos, foram capazes de reduzir o impacto positivo da atuação do premiê na retomada da Chechênia sobre a população. Assim, três meses após se tornar presidente interino da Rússia, Putin foi efetivamente eleito, em março de 2000, no primeiro turno, com 54,4%. O controle completo do território checheno foi reestabelecido pouco tempo depois, em maio.

 

O Czar da Era Moderna

Putin tornou-se presidente após a saída de Boris Yeltsin do cargo | Kremlin

Apesar de ser filho da Revolução Russa 1917, que derrubou a monarquia vigente e instaurou, sob o comando de seu xará Vladimir Lenin, o governo socialista, o estilo autoritário e, de certa forma, expansionista faz de Putin uma figura mais próxima de seu antecessor derrotado pelos bolcheviques, o czar Nicolau II, do que de seus ídolos da URSS.

Não à toa, muitos teóricos políticos caracterizam o presidente russo como uma espécie de "czar" da era moderna, atribuindo a ele o título concedido aos imperadores absolutistas do século XVI. A diferença é que, no caso Putin, a cruzada pela conquista e permanência no poder teve como principal arma a própria democracia russa - e claro, sua astúcia política.

A primeira cartada de Vladimir Putin para continuar na liderança do país começou pouco antes dele deixar o Kremlin. Assim como no Brasil, a constituição russa de 1993, elaborada após o fim da União Soviética, estipulava um limite de dois mandatos presidenciais consecutivos no país; permitindo, então, que Putin ficasse no poder entre 2000 e 2008, contando com sua reeleição em 2004.

No entanto, diferente do modelo presidencialista brasileiro, o chefe de Estado russo não era o responsável pelas decisões práticas da administração nacional, e sim o chefe de Governo, isto é, o primeiro-ministro. Desta forma, quando deixou a presidência em 2008, Putin voltou-se novamente para o cargo que lhe serviu de trampolim para o poder e, em 2008, com seu candidato Dmitry Medvedev eleito no primeiro turno, com 71,2% dos votos, conseguiu sua indicação para a vaga de primeiro-ministro.

Foi no governo de Medvedev, então, que Putin fez seu segundo movimento, mudando de vez as regras do jogo político russo: a ampliação do mandato presidencial de 4 para 6 anos por meio de uma proposta de emenda à constituição, aprovada pela Duma, o parlamento russo. Com a medida, após cumprida a pausa entre mandatos prevista pela carta magna do país, Putin poderia ocupar o Kremlin por até 12 anos. E assim se fez. Em 2012, Vladimir Putin tomou o lugar de Medvedev no pleito presidencial e venceu seus concorrentes, em primeiro turno, com 63,6% dos votos. Depois, em 2018, foi reeleito com 76,69%, para um mandato de mais seis anos.

Um tutor para a "Mãe Rússia"

Mais tempo que o Stalin: Putin poderá ficar no poder até 36 anos, se caso for reeleito em 2024 | Kremlin

Como todo autocrata que se preze, a segurança e o controle da opinião pública sempre foi uma de suas maiores prioridades. E com o mesmo braço forte que lhe rendeu uma faixa azul de "sambo",  arte marcial moderna de "autodefesa sem armas", e uma vermelha de judô, Vladimir Putin nocauteou as críticas ao seu governo.

Opositores foram duramente, e às vezes até abertamente, perseguidos e presos, ao longo das duas últimas décadas, e indícios apontam inclusive para casos de tortura e assassinato. Nem mesmo as fronteiras do país conseguiram deter as investidas do líder russo contra seus adversários políticos. Ameaças e censura a veículos de imprensa e jornalistas também se tornaram comuns no governo Putin.

Desta forma, com o passar dos anos, a Rússia começou a ser descrita como uma "democracia administrativa", isto é, um regime político que tem, formalmente, uma estrutura democrática, com eleições, judiciário e legislativo independentes e uma imprensa livre, mas que, na prática, vive em uma realidade autoritária.

O fato é que depois de tantos invernos à frente da Nação Russa, Vladimir Putin demonstrou ainda não estar disposto a abrir mão do poder. Em 2020, o presidente propôs um Plebiscito para votar uma série de mudanças na Constituição do país, dentre elas, a entrega da escolha do primeiro-ministro ao Parlamento - cabendo apenas ao presidente aprová-lo ou não - e a possibilidade do atual mandatário, ele mesmo no caso, disputar a reeleição. Em julho de 2020, os russos foram às urnas e, por 77,9%, aprovaram a recondução de Putin à presidência.

Com isso, Vladimir Putin criou condições legais para, ao fim de seu mandato em 2024, disputar um novo pleito e, ao ser eleito, passar mais 6 ou até 12 anos no Kremlin. Neste caso, ele terá comandado a Rússia por 36 anos, sete a mais que Josef Stalin. 

Assim, em 2036, então aos 83 anos, Putin terá dedicado quase metade de sua vida para escrever, à sua maneira, o destino da Mãe Rússia.

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