Relatório sobre festas na sede do governo britânico: "Difícil de justificar"
Parte do documento foi publicada nesta 2ª feira; Boris Johnson voltou a pedir desculpas
Sérgio Utsch
Uma investigação interna apontou que as festas realizadas na sede do governo britânico durante o lockdown são "difíceis de serem justificadas", "não deveriam ter acontecido" e que há uma cultura de "consumo excessivo de álcool" e um problema de "falha de liderança" em Downing Street, onde fica o escritório do primeiro-ministro, Boris Johnson.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Parte do relatório foi publicada nesta 2ª feira (31.jan). A pedido da polícia, não foram tornados públicos alguns trechos que estão sob investigação da Scotland Yard, a polícia metropolitana de Londres. O relatório Sue Gray, uma referência à servidora pública que conduziu a investigação, lista 16 eventos. Entre os documentos ainda em sigilo, há 300 fotos que estão sob análise dos policiais.
Um deles foi uma festa em 20 de maio de 2020, nos jardins do apartamento funcional do primeiro-ministro. Cerca de 100 pessoas receberam o convite, que tinha um pedido pra que cada um "levasse a própria bebida". Naquela época, as restrições em vigor na Inglaterra proibiam a reunião de mais de duas pessoas que morassem em endereços diferentes. Pelo menos outras duas festas aconteceram no apartamento onde moram o primeiro-ministro e a mulher dele, Carrie Johnson.
"O senhor vai assumir alguma responsabilidade?", gritou uma repórter quando o premiê deixava Downing Street em direção ao parlamento. Acuado, Boris Johnson só falou em público 15 minutos depois, quando teve de encarar os parlamentares. Na Casa dos Comuns, ele voltou a pedir desculpas: "Eu sinto muito por tudo o que não fizemos de maneira correta e pela maneira como tratamos essas questões". O premiê prometeu "consertar" o que está errado.
Da oposição, vieram mais pedidos pra que ele renuncie e acusações como "um homem que não tem vergonha", proferida pelo líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer. As críticas vieram até mesmo da bancada do Partido Conservador. A ex-primeira-ministra Theresa May lembrou que o primeiro-ministro e sua equipe tinham que dar exemplo e usou a linguagem rebuscada da Casa dos Comuns pra encerrar sua curta, mas incisiva participação no debate: "Ou o meu honorável amigo não leu as regras em vigor ou não entendeu o que elas significavam ou pensou que elas não se aplicavam a ele e à sua equipe. Qual dessas opções?". O primeiro-ministro afirmou que não é isso que o relatório sugere.
Enquanto se defendia no parlamento, Boris Johnson perdeu um dos compromissos do dia: um telefonema com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, com quem conversaria sobre a crise na fronteira da Ucrânia e as ameaças de sanções por parte dos britânicos caso os russos avancem sobre o território ucraniano.
Boris Johnson tem viagem marcada para Kiev nesta 3ª feira, mas no início da noite, a ministra das Relações Exteriores foi diagnosticada com covid-19. Liz Truss estava sem máscaras no parlamento durante o debate e o acompanharia na viagem à Ucrânia. Ainda não se sabe se a viagem será mantida. A crise militar no leste da Europa é um dos assuntos que Boris Johnson tenta usar pra evitar a crise no seu governo. Nesta quinta, nova pesquisa do Instituto Opinium, mostrou que 64% dos britânicos querem que ele renuncie.