Reabertura: "dia da liberdade" vira "dia do fiasco" no Reino Unido
Reabertura não é mais irreversível, como havia dito o governo; número de casos cresce 41% em 1 semana
Sérgio Utsch
Era pra ter sido uma festa histórica e uma demonstração pública da vitória do Reino Unido sobre o novo coronavírus. Mas o tom mudou bastante. A reabertura já não é mais irreversível, como o governo britânico tanto propagandeou nos últimos meses. Jornais populares, como o Metro, rapidamente apelidaram a 2ª feira (19.jul) como "o dia do fiasco".
No ofialmente chamado "dia da liberdade", o aumento consolidado do número de casos foi de 41,2% em relação à última 2ª feira. Foram 39.950 novas infecções confirmadas nas últimas 24 horas. Estimativas conservadoras do próprio governo mostram que o número de casos diários pode chegar a 100 mil nas próximas semanas.
O primeiro-ministro Boris Johnson planejava um pronunciamento à nação, em que declararia a vitória dos britânicos, invocando a retórica usada por Winston Churchill, líder do governo britânico durante a Segunda Guerra Mundial. "Isso já não é mais apropriado", disseram fontes do governo à mídia do país.
Em vez dos holofotes, Boris Johnson está recolhido. O primeiro-ministro foi forçado a se isolar depois de ter tido contato com alguém que estava contaminado. No fim de semana, o governo chegou a anunciar que ele e o ministro da Economia fariam parte de um programa piloto que, com testes diários, o dispensaria do isolamento. As críticas foram tão intensas que ele recuou.
O programa de rastreamento do NHS, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, notifica, em média, três pessoas que tiveram contato com cada contaminado. Todas são orientadas a se isolar por até 10 dias. Com o número de casos em alta, vai haver também um grupo cada vez maior em isolamento obrigatório. Será um problema para as empresas, no momento em que deixa de valer a orientação para, quem puder, trabalhar em casa.
Só na primeira semana de julho, houve mais de 500 mil notificações, um aumento de 46% em relação à semana anterior. Grandes empresas como Nissan e Rolls Royce confirmaram à rede britânica BBC que podem ter que paralisar linhas de produção por conta do alto número de funcionários colocados em isolamento. Uma das linhas do metrô de Londres, a Metropolitan, ficou fechada no sábado (17.jul) pelo mesmo motivo. A reabertura tende a piorar essa situação.
Fim das restrições
A partir desta 2ª, máscaras e distanciamento não são mais obrigatórios. Casas noturnas, estádios de futebol, teatros, bares e restaurantes, além de grandes eventos, podem funcionar sem restrições. Mas o governo que, na semana passada, dizia que seria tudo como antes da pandemia agora deu sinal de recuo.
"Temos que fazer de tudo para proteger o público", disse Boris Johnson. Casas noturnas, segundo ele mesmo admitiu, poderão ter que exigir um passaporte de vacinação para seus frequentadores, uma ideia que, nos últimos dias, havia sido refutada pelo primeiro-ministro e sua equipe.
Pra azedar ainda mais a festa do governo britânico, os Estados Unidos emitiram uma nova orientação nesta 2ª feira, desaconselhando viagens ao Reino Unido. "Mesmo pessoas já totalmente vacinadas correm o risco de pegar o vírus e espalhar novas variantes", informou o comunicado.
Se essa hipótese já era conhecida, Patrick Vallance, consultor científico do governo britânico, disse nesta 2ª que ela será cada vez mais comum à medida em que aumenta o número de pessoas vacinadas. Hoje, porém, 60% das internações por conta da Covid-19 são de pessoas que ainda não estão totalmente imunizadas.
O resultado da reabertura e das grandes aglomerações já registradas desde o primeiro minuto desta segunda, quando casas noturnas reabriram suas portas em Londres, será sentido daqui a 3 semanas, dizem os cientistas. Só então, será conhecido o resultado do grande experimento feito pelo país onde quase 32% dos adultos ainda não estão totalmente imunizados.
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Atualização: Na primeira versão do texto, noticiamos que 60% das internações por covid-19 eram de pessoas que já tinham recebido as 2 doses da vacina. Essa informação tinha sido divulgada por Patrick Vallence, cientista que assessora o governo britânico, na entrevista coletiva desta 2ª. Mais tarde, ele afirmou em suas redes sociais que havia se enganado e que, na verdade, 60% das internações são de pessoas que não se vacinaram. O texto foi corrigido assim que ele divulgou a informação correta.
Veja reportagem do SBT Brasil: