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Pesquisa de Oxford encontra dois medicamentos úteis contra a covid
Trabalho envolveu 40 mil pacientes. Dexametasona e tocilizumabe tiveram bons resultados
Sérgio Utsch
• Atualizado em
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Quando o mundo inteiro ainda tentava entender como lidar com o novo coronavírus, a Universidade de Oxford já tinha reunido um grupo de pesquisadores para descobrir como tratar a doença. Além da Universidade, o projeto tem recursos da Fundação Bill e Melinda Gates e do governo britânico.
O trabalho começou em março de 2020. Envolveu, por enquanto, quase 40 mil pacientes e já constatou que pelo menos dois medicamentos podem diminuir os índices de mortalidade da covid-19.
"Uma das grandes belezas da ciência é que nos permite diferenciar as nossas crenças dos fatos, da realidade", diz Guilherme Pessoa-Amorim, um dos pesquisadores do Recovery Trial. Trata-se do maior projeto do mundo de testes de fármacos em pacientes infectados pelo novo coronavírus. Além do Reino Unido, Indonésia, Nepal e Vietnã acabam de ser incluídos.
A dexametasona, medicamento usado no tratamento do reumatismo e outras doenças, foi o que trouxe resultados mais animadores justamente entre os casos mais graves. Na UTIs, ajudou na sobrevivência de pelo menos 30% dos pacientes. "Além disso, mostrou também menor duração de hospitalização, mais probabilidade da alta hospitalar com sucesso, menos propensão para doença severa", disse o pesquisador, em entrevista exclusiva ao SBT News.
Outro medicamento com resultados promissores foi o tocilizumabe. Usado no tratamento da artrite rematoide, também foi testado em pacientes em estado mais grave e conseguiu reduzir a progressão da doença, o tempo de internação e o índice de mortalidade. O estudo com o Tocilizumabe ainda precisa ser revisado por cientistas independentes antes de ser publicado.
Assim como o trabalho com as vacinas, o estudo com os medicamentos seguiu a mesma intensidade. Em um ano, pelo menos 8 foram testados pelo grupo de Oxford nos milhares de pacientes britânicos. Ou eles ou a família tem que concordar. Um medicamento só segue para os testes com pacientes depois de passar pelo crivo do Comitê Científico Independente do Reino Unido, que leva em conta fatores como segurança e evidências.
A Ivermectina, muito usada no Brasil, sequer passou por essa fase e não chegou a ser testada em pacientes. Recentemente, a farmacêutica Merck, que produz o medicamento, veio a público para confirmar que seu produto não ajuda nem na prevenção, nem no tratamento da covid-19.
Outros 5 medicamentos testados pelos pesquisadores de Oxford não mostraram benefícios em pacientes hospitalizados. Azitromicina, Lopinavir-ritonavir - combinação usada também no tratamento de portadores do vírus HIV - e hidroxicloroquina já tiveram os estudos revisados por cientistas independentes e publicados em revistas científicas.
Neste último, um detalhe chamou a atenção dos pesquisadores. O índice de mortalidade entre aqueles que foram tratados com o medicamento foi de 25,7%, acima dos 23,5% que não o utilizaram. "Não conseguimos dizer com absoluta certeza que a Hidroxicloroquina contribuiu para a morte destes doentes porque os números não são tão diferentes. Mas sem dúvida há um potencial, um sinal problemático em termos de segurança desse fármaco".
O plasma convalescente, amostra de sangue retirada de pacientes que tiveram uma infecção prévia com o novo coronavírus e a colchicina, usada no tratamento de gota, também não mostraram benefícios para pacientes com a covid-19. Os dois estudos ainda precisam ser revisados por outros cientistas.
Mesmo em medicamentos bem sucedidos como a dexametasona, não houve benefícios constatados em pacientes com infecções consideradas leves. O uso indiscriminado de um medicamento que não tenha comprovação científica confirmada em estudos como o da Universidade de Oxford é a porta para outros problemas, segundo Guilherme Pessoa-Amorim.
"Cada doente que toma um medicamento sem eficácia comprovada em um estudo clínico, estamos perdendo oportunidade para aprender. Penso que isso é uma das grandes marcas que o (programa) Recovery deixa. Nós conseguimos aprender quais tratamentos funcionam e quais não funcionam. Se não, estamos correndo sem saber para onde estamos indo e não aprendemos nada pelo caminho".
O chamado tratamento precoce é outra grande preocupação. O cientista diz que entende a vontade dos médicos brasileiros em ajudar seus pacientes, mas que é preciso entender que, sem comprovação, nunca haverá certeza se o paciente "melhorou com ou apesar do medicamento".
"O que estamos sempre reforçando é que ao prescrever um medicamento cuja eficácia e segurança desconhecemos, principalmente no caso da covid, podemos não estar colaborando para a saúde dos pacientes e podemos colocá-los em risco sem perceber. Portanto, esta é uma consideração muito importante para qualquer médico, para qualquer profissional de saúde".
Os cientistas do Recovery Trial da Universidade de Oxford aguardam agora os resultados da pesquisa feita com Aspirina em pacientes doentes. Outros três fármacos - Regeneron, Baricitinib, e Dimetil Fumarato - tiveram estudos aprovados e estão em fase de recrutamento de pacientes.
"Sempre que mexemos com organismos complexos, como é o corpo humano, ao mexermos de um lado, estamos sempre descompensando do outro. Portanto, é muito importante fazermos esses ensaios clínicos porque eles nos permitem ver os benefícios que teremos, se eles existem de fato e se conseguem contrabalançar os problemas que podemos criar".
O trabalho começou em março de 2020. Envolveu, por enquanto, quase 40 mil pacientes e já constatou que pelo menos dois medicamentos podem diminuir os índices de mortalidade da covid-19.
"Uma das grandes belezas da ciência é que nos permite diferenciar as nossas crenças dos fatos, da realidade", diz Guilherme Pessoa-Amorim, um dos pesquisadores do Recovery Trial. Trata-se do maior projeto do mundo de testes de fármacos em pacientes infectados pelo novo coronavírus. Além do Reino Unido, Indonésia, Nepal e Vietnã acabam de ser incluídos.
A dexametasona, medicamento usado no tratamento do reumatismo e outras doenças, foi o que trouxe resultados mais animadores justamente entre os casos mais graves. Na UTIs, ajudou na sobrevivência de pelo menos 30% dos pacientes. "Além disso, mostrou também menor duração de hospitalização, mais probabilidade da alta hospitalar com sucesso, menos propensão para doença severa", disse o pesquisador, em entrevista exclusiva ao SBT News.
Outro medicamento com resultados promissores foi o tocilizumabe. Usado no tratamento da artrite rematoide, também foi testado em pacientes em estado mais grave e conseguiu reduzir a progressão da doença, o tempo de internação e o índice de mortalidade. O estudo com o Tocilizumabe ainda precisa ser revisado por cientistas independentes antes de ser publicado.
Assim como o trabalho com as vacinas, o estudo com os medicamentos seguiu a mesma intensidade. Em um ano, pelo menos 8 foram testados pelo grupo de Oxford nos milhares de pacientes britânicos. Ou eles ou a família tem que concordar. Um medicamento só segue para os testes com pacientes depois de passar pelo crivo do Comitê Científico Independente do Reino Unido, que leva em conta fatores como segurança e evidências.
INEFICAZES
A Ivermectina, muito usada no Brasil, sequer passou por essa fase e não chegou a ser testada em pacientes. Recentemente, a farmacêutica Merck, que produz o medicamento, veio a público para confirmar que seu produto não ajuda nem na prevenção, nem no tratamento da covid-19.
Outros 5 medicamentos testados pelos pesquisadores de Oxford não mostraram benefícios em pacientes hospitalizados. Azitromicina, Lopinavir-ritonavir - combinação usada também no tratamento de portadores do vírus HIV - e hidroxicloroquina já tiveram os estudos revisados por cientistas independentes e publicados em revistas científicas.
Neste último, um detalhe chamou a atenção dos pesquisadores. O índice de mortalidade entre aqueles que foram tratados com o medicamento foi de 25,7%, acima dos 23,5% que não o utilizaram. "Não conseguimos dizer com absoluta certeza que a Hidroxicloroquina contribuiu para a morte destes doentes porque os números não são tão diferentes. Mas sem dúvida há um potencial, um sinal problemático em termos de segurança desse fármaco".
O plasma convalescente, amostra de sangue retirada de pacientes que tiveram uma infecção prévia com o novo coronavírus e a colchicina, usada no tratamento de gota, também não mostraram benefícios para pacientes com a covid-19. Os dois estudos ainda precisam ser revisados por outros cientistas.
RISCOS
Mesmo em medicamentos bem sucedidos como a dexametasona, não houve benefícios constatados em pacientes com infecções consideradas leves. O uso indiscriminado de um medicamento que não tenha comprovação científica confirmada em estudos como o da Universidade de Oxford é a porta para outros problemas, segundo Guilherme Pessoa-Amorim.
"Cada doente que toma um medicamento sem eficácia comprovada em um estudo clínico, estamos perdendo oportunidade para aprender. Penso que isso é uma das grandes marcas que o (programa) Recovery deixa. Nós conseguimos aprender quais tratamentos funcionam e quais não funcionam. Se não, estamos correndo sem saber para onde estamos indo e não aprendemos nada pelo caminho".
O chamado tratamento precoce é outra grande preocupação. O cientista diz que entende a vontade dos médicos brasileiros em ajudar seus pacientes, mas que é preciso entender que, sem comprovação, nunca haverá certeza se o paciente "melhorou com ou apesar do medicamento".
"O que estamos sempre reforçando é que ao prescrever um medicamento cuja eficácia e segurança desconhecemos, principalmente no caso da covid, podemos não estar colaborando para a saúde dos pacientes e podemos colocá-los em risco sem perceber. Portanto, esta é uma consideração muito importante para qualquer médico, para qualquer profissional de saúde".
Os cientistas do Recovery Trial da Universidade de Oxford aguardam agora os resultados da pesquisa feita com Aspirina em pacientes doentes. Outros três fármacos - Regeneron, Baricitinib, e Dimetil Fumarato - tiveram estudos aprovados e estão em fase de recrutamento de pacientes.
"Sempre que mexemos com organismos complexos, como é o corpo humano, ao mexermos de um lado, estamos sempre descompensando do outro. Portanto, é muito importante fazermos esses ensaios clínicos porque eles nos permitem ver os benefícios que teremos, se eles existem de fato e se conseguem contrabalançar os problemas que podemos criar".
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