Discursos de Trump e Xi Jinping revelam "nova guerra fria"

Nova York - Um cenário diferente para uma Assembleia Geral inédita. No auditório principal, apenas dois discursos foram presenciais na manhã desta terça-feira (22.set): o do Secretário Geral das Nações Unidas (ONU) António Guterres e do atual presidente da Assembleia Geral, Volkan Bozkir. As imagens da primeira reunião virtual da história da organização mostravam muitos assentos vazios. Apenas diplomatas e representantes das missões estrangeiras estavam no local. Cada um chamou ao microfone o discurso do respectivo presidente. Até ontem (21), antes da divulgação da agenda presidencial pela Casa Branca, a presença de Donald Trump -que tenta a reeleição- era uma incógnita. Trump havia verbalizado há algum tempo que gostaria de estar na tribuna. Ao fim, ele respeitou a decisão da ONU de fazer um evento virtual por causa da pandemia e enviou discurso gravado.

Trump falou sobre Oriente Médio, imigração, direitos humanos, economia mas o foco do discurso foi a covid19. "Estamos produzindo em massa a vacina que será distribuída imediatamente. Ela vai vencer o vírus, acabar com a pandemia, trazer cooperação e paz.". Trump afirmou que "a China infectou o mundo" ao garantir, no começo do ano, que pessoas assintomáticas não transmitiam o vírus. O presidente dos EUA voltou a condenar a postura da OMS -Organização Mundial da Saúde? em relação às ações contra a pandemia e disse que seu país e o mundo são vítimas dos "abusos chineses". Acusações rebatidas quase que imediatamente.

Xi-Jinping, presidente chinês, foi o quarto a discursar e usou um tom bem mais ameno. Falou no dever de ajuda entre as nações, em diálogo e que o mundo "deve dizer não ao protecionismo". Garantiu que a China está ativamente envolvida em combater o novo coronavírus e que assim que uma vacina fique pronta em seu país, o produto será distribuído para o mundo, especialmente para as nações mais pobres. "A covid19 nos lembra que vivemos num mundo conectado e assim compartilhamos o futuro. Nenhum país vai vencer tirando vantagem do problema alheio", disse Xi-Jinping afirmando que é preciso acolher a visão de que todos devem cooperar. "Devemos ver todos como membros da mesma família", disse o chinês. Palavras que reverberam no momento em que os dois países -Estados Unidos e China? protagonizam múltiplas batalhas não só em relação à vacina contra a Covid19 mas lutas econômicas envolvendo segurança de dados e empresas de grande porte.

Os discursos de Trump e Xi-Jinping são a confirmação de uma realidade que o secretário-geral António Guterres chamou de "nova guerra fria". Ao abrir a Assembleia Geral nesta terça-feira (22.set), Guterres disse que o mundo não pode mais conceber tal fato e que a guerra sem armas entre americanos e chineses prejudica o planeta. O secretário geral da ONU acredita que é dever das nações desenvolvidas criarem parcerias e diálogos que ajudem os países mais pobres a prosperar num momento de crise econômica agravada pela pandemia.

Guterres falou ainda da necessidade do apoio às mulheres que são maioria entre os voluntários da área da saúde que cuidam dos pacientes com Covid19 no mundo. "Elas ganham menos e ainda sofrem o aumento da violência doméstica em tempos de pandemia." O Secretário Geral da ONU afirmou que a nova ordem mundial faz o mundo rever a questão da igualdade de gênero.

Trump citou o direito das mulheres, falou em "descriminalizar a homossexualidade" e finalizou dizendo que em 3 anos seu governo construiu a melhor economia do mundo. Falou do recente acordo entre Israel, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, disse que os Estados Unidos estão trabalhando para acabar com a guerra do Afeganistão e desta forma trazer as tropas para casa e que a América está mais forte do que nunca. Ao fim, Trump indiretamente se autoproclamou vitorioso nas eleições de novembro ao dizer: "Estou confiante que quando nos encontrarmos pessoalmente aqui no ano que vem vamos estar em um novo mundo."