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Na 2ª onda da covid, governo britânico se escora nos cientistas

Com credibilidade em baixa, o primeiro-ministro Boris Johnson sai de cena e deixa o palco para a ciência

Na 2ª onda da covid, governo britânico se escora nos cientistas
Na 2ª onda da covid, governo britânico se escora nos cientistas
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Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, junto com Patrick Vallance, do comitê científico (no fundo, à dir.). Foto: Andrew Parsons / nº 10 Downing Street

Passava das dez da manhã em Londres, quando os dois principais nomes do comitê científico do governo britânico fizeram um pronunciamento transmitido ao vivo pela TV para dizer que a Inglaterra caminha a passos firmes para uma segunda onda do novo coronavírus.

Patrick Vallance afirmou que o número de novos casos da covid-19 está dobrando a cada semana. "Se isso continuar, poderemos ter 50 mil casos por dia em meados de outubro". Ele se referia apenas à Inglaterra porque Escócia, Gales e Irlanda do Norte têm autonomia para elaborar suas próprias políticas de combate ao vírus. Em todos os outros países do Reino, as regras foram mais duras e duraram mais tempo que na Inglaterra.

Logo depois do pronunciamento, os números já tinham virado manchete nos principais portais do país. Na rádio LBC, uma das mais populares entre os ingleses, vários ouvintes ligavam para dizer que confiavam nos cientistas, mas não no governo. Uma delas ligou para o apresentador James O'Brien enquanto cavalgava. Ela descontraiu, mas não tirou o foco dele, que reforçou o tom contra o primeiro-ministro. "Não confiaria a saúde da minha família nas mãos dele". 

Depois de vencer as eleições gerais de dezembro com uma das maiores margens da história recente, Boris Johnson começou a perder popularidade no início da pandemia. Depois de ter implementado medidas semanas depois que os vizinhos europeus, o primeiro-ministro foi acusado de fazer vista grossa à violação da quarentena por seu principal assessor: Dominic Cummings foi com a família para Durham, no interior da Inglaterra, quando o governo aconselhava apenas viagens essenciais.

O primeiro-ministro preferiu o desgate com a opinião pública a ficar sem o cérebro da campanha do Brexit e de seus principais bordões, sempre recheados de otimismo e superlativos. "Vai ser o melhor sistema do mundo", disse Johnson, várias vezes, sobre o sistema de rastreio, que deveria ter começado a funcionar em junho e até agora não decolou. Além disso, os britânicos se depararam nas últimas semanas com o mais básico dos problemas: nem todos os casos suspeitos conseguem fazer os testes prometidos pelo governo. O efeito verão, quando milhões passaram a socializar e se contaminar mais, fez crescer em 65% a demanda por testes. Os laboratórios, segundo admitiu o governo, não deram conta da demanda. A situação só piorou com a volta às aulas, no início do mês. 

No pronunciamento de hoje, não havia nenhum político ao lado dos cientistas. Analistas da política britânica viram na cena rara uma tentativa do governo fortalecer a mensagem deles para justificar as possíveis decisões que deverão ser anunciadas nos próximos dias e que não vão agradar parte da base do Partido Conservador, que é contrária a novas restrições. Ao sair de cena e deixar o palco apenas para a ciência, o governo Boris Johnson pega carona com aqueles que, por enquanto, têm mais credibilidade que ele junto ao público britânico.

Os sucessivos erros que levaram o Reino Unido a ter o maior número de mortes em números absolutos na Europa (41.877, segundo a Universidade Johns Hopkins) queimaram boa parte do capital político e da popularidade do primeiro-ministro. Hoje, Boris Johnson é reprovado por 54% dos britânicos, segundo o Yougov, o mais respeitado instituto do país. Os cientistas, por outro lado, têm a confiança de 64% da população, de acordo com a última pesquisa disponível, realizada pela Open Knowledge Foundation e publicada em maio pelo jornal The Guardian.

No fim do dia, o governo britânico subiu para 4 o índice de alerta para o vírus, na escala que vai até cinco.  Isso quer dizer que "o nível de transmissão está alto e crescendo exponencialmente". É o prenúncio de que o país vai enfrentar novas restrições, de que a economia vai sofrer mais e que o governo deverá precisar mais ainda da chancela de seus cientistas. 
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