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As eleições americanas e os protestos contra o racismo

As visitas de Trump e Biden a Kenosha, onde protestos recentes aconteceram, evidenciam como candidatos lidam com a questão racial às vésperas das eleições

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As eleições americanas e os protestos contra o racismo
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Em maio de 2020 o mundo conheceu o nome que por semanas foi verbalizado por multidões: George Floyd. A imagem do homem negro de 46 anos pressionado no pescoço pelo policial Derek Chauvin até a morte por asfixia, na cidade americana Minneapolis, fez renascer os protestos do movimento Black Lives Matter. Vidas negras importam. Além de Floyd, outras vítimas da violência policial nos Estados Unidos foram relembradas dia a dia desde então. Entre elas, Breonna Taylor, médica assassinada pela polícia americana em março deste ano e Trayvon Martin, jovem de 17 anos que morreu baleado em 2013 depois que o segurança de um condomínio atirou por considerá-lo suspeito. Trayvon Martin estava hospedado ali com o pai que visitava a noiva. O segurança George Zimmerman foi absolvido e a hashtag #BlackLivesMatter virou um dos símbolos da luta contra o racismo sistêmico no país.

O caso de George Floyd repercutiu com força parecida à pressão usada por Derek Chauvin contra seu pescoço. "É uma situação de desigualdade que acontece há anos, uma frustação antiga em ebulição" me disse a médica Madison Edens enquanto segurava um cartaz com os dizeres "jalecos brancos apoiam as vidas negras" durante uma manifestação em Manhattan, em 2 de junho.

 

Aquele era o segundo dia do toque de recolher instaurado em Nova York. Assim como em outras cidades americanas, a Big Apple vivenciou em junho cenas de um realismo que não era fantástico. Era realidade. Patrulhas policiais em chamas no Brooklyn, no sul de Manhattan e lojas de artigos de luxo saqueadas - muitas no Soho, região considerada cara e exclusiva.  Em Nova York, prefeito e governador - ambos democratas - disseram desde o início que a voz das ruas era legítima e que precisava ser ouvida. Esse também tem sido o tom dos discursos de Joe Biden - que, ao mesmo tempo, critica atos ilícitos como os saques e depredações.

Esta semana Biden visitou Kenosha, em Wisconsin. A cidade de 100 mil habitantes virou notícia depois que Jacob Blake, um jovem negro de 29 anos, foi baleado 7 vezes por policiais e perdeu o movimento nas pernas. Biden, que foi vice de Barack Obama e tem o ex-presidente como um de seus apoiadores, teve um encontro privado com a família de Jacob Blake. A mesma família que se recusou a encontrar Donald Trump. O presidente americano esteve em Kenosha no dia 1 de Setembro. Foi ver pessoalmente os comércios destruídos em meio aos protestos violentos, se reuniu com forças de segurança locais e repetiu que o país precisa de "lei e ordem" - frase que virou um dos temas de campanha. Joe Biden, em Kenosha, afirmou que saques e destruição de lojas não são protestos e prometeu mudanças estruturais na polícia.

Duas visitas, dois cenários que evidenciam como os candidatos democrata e republicano enfrentam a questão hoje tratada como peça chave para eleições do dia 3 de novembro. Donald Trump defende que ações mesmo enérgicas da polícia são necessárias em momentos de caos, como os vividos em Junho e comparou os erros policiais como os cometidos no esporte. Joe Biden usa o discurso mais moderado. Tem como parceira de chapa Kamala Harris, primeira mulher afrodescendente a concorrer à vice presidência dos Estados Unidos e o apoio de integrantes do Movimento Black Lives Matter. Se recorrermos às estatísticas de 2016, veremos que Trump foca em seu eleitorado. Uma pesquisa feita em 2016 pela Edison Research mostrou que entre todos os eleitores brancos daquele ano, 58% votaram em Donald Trump. Entre o eleitorado da população negra, Trump teve 8% dos votos em 2016. Joe Biden carrega o histórico de ter sido o vice de Barack Obama, rosto presente na convenção Democrata deste ano e que teve, em 2012, 94% dos votos entre o eleitorado de descendência afro-americana.

Em meio aos dados e estatísticas estão histórias como a de Daniel Prude, o mais recente caso de violência policial a ganhar visibilidade nos Estados Unidos. Em março, o irmão de Daniel Prude chamou a polícia depois que o rapaz - com histórico de problemas mentais - saiu pelas ruas de Rochester, em Nova York, sem roupas.
 
As imagens foram liberadas esta semana pela família de Daniel Prude, que ganhou na justiça o direito de ter acesso ao vídeo das câmeras acopladas aos uniformes dos policiais. Caía uma neve fina. Quatro policiais algemaram Daniel que se sentou no asfalto, nu. O vídeo mostra que o rapaz negro gritava frases desconexas e mesmo assim pediu ajuda. Um dos policiais colocou um saco plástico na cabeça de Daniel que se debateu até a chegada da ambulância. Daniel Prude morreu dias depois no hospital, segundo a autópsia, por complicações de asfixia. A tática do encapuzamento é permitida em alguns estados americanos para evitar que a pessoa abordada possa morder ou cuspir nos policiais. Daniel estava algemado no chão, sem roupas e cercado por quatro policiais.

Depois da divulgação do vídeo, sete policiais de Rochester foram afastados. Aos jornalistas, o irmão de Daniel, que chamou a polícia, não falou de política. Disse apenas que seu telefonema foi um pedido de ajuda e não um chamado para um linchamento.
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